Diversidade e inclusão em instituições espíritas: o amor como princípio
Realizado de 19 a 21 de junho, em São Paulo, o Mednesp 2025 fez história e reafirmou seu título de maior congresso sobre Saúde e Espiritualidade do planeta. Com o tema central “Servir para curar-se”, o evento mostrou que o ideal médico-espírita segue firme em seu propósito de integrar os conhecimentos da medicina e da ciência com os princípios da Doutrina Espírita, buscando sempre uma compreensão mais profunda do ser humano e da sua saúde.
Além da presença de grandes nomes da medicina e da ciência integrativas, o Mednesp foi além e, corajosamente, abriu espaço para reflexões sobre temas fundamentais para o Movimento Espírita na atualidade. Questões sensíveis que precisam ser exaustivamente debatidas. Infelizmente, ainda vivemos em uma sociedade que exclui – por falas e atitudes – aqueles que diferem em raça, gênero, orientação sexual, origem étnica, idade, entre outros aspectos.
Focado na necessidade urgente da prática do acolhimento e da promoção de uma coexistência pacífica e amorosa, um dos painéis abordou o tema “Diversidade e inclusão em instituições espíritas – o amor como princípio”. Nele, o médico, terapeuta sistêmico e escritor Andrei Moreira se uniu ao cantor e compositor Moacyr Camargo e ao artista, jornalista, palestrante, drag queen e dirigente de uma casa espírita Ikaro Kadoshi, para debater questões relacionadas ao racismo estrutural e à diversidade sexual, por meio de depoimentos pessoais e considerações profundas sobre acolhimento e dignidade.
Racismo estrutural e espiritualidade
Moacyr Camargo e Andrei Moreira destacaram a importância de reconhecer e combater o racismo estrutural presente não apenas na sociedade, mas também no Movimento Espírita. Moreira foi incisivo ao lembrar que “não basta que a gente não seja racista, é preciso ser antirracista”. Ele destacou que, apesar dos esforços já existentes, há muito por avançar, sobretudo no acolhimento da população negra, frequentemente afastada dos grandes eventos espíritas devido às limitações sociais e históricas que restringem seu acesso.
Camargo complementou a reflexão trazendo o conceito de “fluxo do pensamento superior”, destacando a importância da conexão com a consciência do Cristo para superar preconceitos e promover uma convivência mais elevada. Ele afirmou: “Quem mais ama, vê o céu, não é verdade? Quem menos ama, fica distante do céu”.
Acolhimento e diversidade sexual nas instituições espíritas
Andrei Moreira, autor dos livros Homossexualidade sob a ótica do Espírito imortal e Transsexualidades sob a ótica do Espírito imortal, trouxe uma visão desmistificadora sobre diversidade sexual, ressaltando como “o discurso predominante no Movimento Espírita relativo à diversidade sexual tem sido um discurso discriminatório e preconceituoso”.
Moreira compartilhou experiências dolorosas relatadas por frequentadores das casas espíritas, destacando o impacto profundo que palavras discriminatórias têm na autoestima e espiritualidade das pessoas: “Quem fala não percebe a gravidade do que está falando, mas quem é marcado na pele, quem é marcado na alma, não esquece as mínimas palavras que ferem, que machucam e que indignificam”. Moreira reforçou ainda que “o código moral do centro espírita é o Evangelho de Jesus”, que sempre buscou os marginalizados e excluídos, propondo, assim, um caminho claro de acolhimento e respeito às diferenças.
A prática da diversidade e os desafios familiares
Ikaro Kadoshi trouxe seu testemunho pessoal com grande força, abordando os desafios enfrentados dentro e fora das instituições religiosas. Artista drag queen e dirigente espírita, Kadoshi descreveu sua trajetória marcada por preconceitos desde a infância, exemplificando a importância do acolhimento amoroso na construção de uma identidade espiritual saudável.
Seu relato sobre os desafios familiares ao revelar sua sexualidade ressaltou que o amor de sua mãe foi fundamental para enfrentar preconceitos externos. Segundo Kadoshi, essa aceitação transformou-se em força para a vida inteira, contrastando com outras experiências familiares traumáticas que envolveram tentativas de “cura” e violências psicológicas e físicas.
Kadoshi propôs ainda uma importante reflexão sobre a responsabilidade individual e coletiva na desconstrução de preconceitos cotidianos: “a minha vingança para este mundo que me trata desse jeito é amar todo mundo que fez o contrário”.
Energia sexual como manifestação divina
Os participantes ressaltaram a importância de entender a energia sexual como força divina e criadora. Citando Emmanuel, Moreira lembrou que “a energia sexual é utilizada para todas as funções de criação do Espírito imortal”. Ele ressaltou que compreender essa energia sob uma perspectiva espiritual amplia o entendimento da diversidade sexual e afetiva como natural na experiência humana.
Em convite à transformação por meio do amor
Esse painel do Mednesp 2025 foi mais do que uma troca de informações, pois representou um convite profundo e urgente à transformação pessoal e institucional por meio do amor, da compaixão e do respeito. Os palestrantes incentivaram todos a refletir sobre preconceitos internalizados e práticas institucionais que ainda mantêm a exclusão de minorias, lembrando que acolher é um ato essencialmente cristão.
Com base nos ensinamentos espíritas e evangélicos, fica evidente a importância de promover ambientes cada vez mais inclusivos, transformando as instituições espíritas em verdadeiros espaços de acolhimento, respeito e amor ao próximo.
Fonte: Diversidade e inclusão em instituições espíritas: o amor como princípio – FOLHA ESPÍRITA