Escolhos dos médiuns

Allan Kardec

Revista Espírita – Jornal de Estudos psicológicos,

publicada sobre a direção de ALLAN KARDEC

fevereiro de 1859

Livro - Revista espírita - 1859 - Ano II

A mediunidade é uma faculdade multiforme; apresenta uma infinidade de nuanças em seus meios e em seus efeitos. Quem quer que seja apto a receber ou transmitir as comunicações dos Espíritos é, por isso mesmo, um médium, seja qual for o meio empregado ou o grau de desenvolvimento da faculdade – desde a simples influência oculta até a produção dos mais insólitos fenômenos. Contudo, no uso corrente, o vocábulo tem uma acepção mais restrita e se diz geralmente das pessoas dotadas de um poder mediatriz muito grande, tanto para produzir efeitos físicos, como para transmitir o pensamento dos Espíritos pela escrita ou pela palavra.

 

Embora não seja a faculdade um privilégio exclusivo, é certo que encontra refratários, pelo menos no sentido que se lhe dá. Também é certo que não deixa de apresentar escolhos aos que a possuem: pode ser alterada e até perder-se e, muitas vezes, ser uma fonte de graves desilusões. Sobre tal ponto julgamos útil chamar a atenção de todos quantos se ocupam de comunicações espíritas, quer diretamente, quer através de terceiros. Através de terceiros, dizemos, porque importa aos que se servem de médiuns poder apreciar o valor e a confiança que merecem suas comunicações.

 

O dom da mediunidade depende de causas ainda imperfeitamente conhecidas e nas quais parece que o físico tem uma grande parte. A primeira vista pareceria que um dom tão precioso não devesse ser partilhado senão por almas de escol. Ora, a experiência prova o contrário, pois encontramos mediunidade potente em criaturas cuja moral deixa muito a desejar, enquanto outras, estimáveis sob todos os aspectos, não a possuem. Aquele que fracassa, a despeito de seus desejos, esforços e perseverança, não deve tirar conclusões desfavoráveis à sua pessoa nem julgar-se indigno da benevolência dos Espíritos. Se tal favor lhe não é concedido, outros há, sem dúvida, que lhe podem oferecer ampla compensação. Pela mesma razão aquele que a desfruta não poderia dela prevalecer-se, pois a mediunidade não é nenhum sinal de mérito pessoal. O mérito, portanto, não está na posse da faculdade mediatriz, que a todos pode ser dada, mas no uso que dela fazemos. Eis uma distinção capital, que jamais se deve perder de vista; a boa qualidade do médium não está na facilidade das comunicações, mas unicamente na sua aptidão para só receber as boas. Ora, é nisto que as suas condições morais são onipotentes; e é nisso também que ele encontra os maiores escolhos.

 

Para perceber este estado de coisas e compreender o que vamos dizer é necessário reportar-se ao princípio fundamental de que entre os Espíritos há todos os graus do bem e do mal, do saber e da ignorância; que os Espíritos pululam em redor de nós e que, quando nos julgamos sós, estamos incessantemente rodeados de seres que nos acotovelam, uns com indiferença, como estranhos, outros que nos observam com intenção mais ou menos benevolente, conforme sua natureza.

 

O provérbio “Quem se parece se reúne” tem sua aplicação entre os Espíritos, como entre nós; e mais ainda entre eles, se possível, porque não estão, como nós, sob a influência das considerações sociais. Contudo, se entre nós essas considerações algumas vezes confundem homens de costumes e gostos muito diversos, tal confusão, de certo modo, é apenas material e transitória: a similitude ou a divergência de pensamentos será sempre a causa das atrações e repulsões.

 

Nossa alma, que afinal de contas não é mais que um Espírito encarnado, não deixa por isso de ser um Espírito. Se se revestiu momentaneamente de um envoltório material, suas relações com o mundo incorpóreo, embora menos fáceis do que quando no estado de liberdade, nem por isto são interrompidas de modo absoluto; o pensamento é o laço que nos une aos Espíritos, e pelo pensamento atraímos os que simpatizam com as nossas ideias e inclinações. Representamos, pois, a massa de Espíritos que nos envolvem como a multidão que encontramos no mundo; para onde preferirmos ir, encontraremos homens atraídos pelos mesmos gostos e pelos mesmos desejos; às reuniões que tem objetivo sério vão homens sérios; às que são frívolas, vão os frívolos. Por toda parte encontram-se Espíritos atraídos pelo pensamento dominante. Se lançarmos um olhar sobre o estado moral da Humanidade em geral, compreenderemos sem dificuldade que nessa multidão oculta os Espíritos elevados não devem constituir a maioria. É uma consequência do estado de inferioridade do nosso globo.

 

Os Espíritos que nos cercam não são passivos: formam uma população essencialmente inquieta, que pensa e age sem cessar, que nos influencia, malgrado nosso, que nos deita e nos dissuade, que nos impulsiona para o bem ou para o mal, o que não nos tira o livre arbítrio mais do que os bons ou maus conselhos que recebemos de nossos semelhantes. Entretanto, quando os Espíritos imperfeitos solicitam alguém a fazer uma coisa má, sabem muito bem a quem se dirigem e não vão perder o tempo onde veem que serão mal recebidos; eles nos excitam conforme as nossas inclinações ou conforme os germens que em nós veem e segundo as nossas disposições para os escutar. Eis porque o homem firme nos princípios do bem não lhes dá oportunidade.

 

Estas considerações nos levam naturalmente ao problema dos médiuns. Como todas as criaturas, estes são submetidos à influência oculta dos Espíritos bons e maus; atraem-nos e repelem-nos conforme as simpatias de seu próprio Espírito e os Espíritos maus aproveitam-se de todas as falhas, como de uma falta de couraça, para introduzir-se junto a eles, intrometendo-se, malgrado seu, em todos os atos de sua vida particular. Além disso, tais Espíritos, encontrando no médium um meio de expressar seu pensamento de modo inteligível e atestar sua presença, intrometem-se nas comunicações e as provocam, porque esperam ter mais influência por este meio e acabam por assenhorear-se dele. Consideram-se como na própria casa, afastam os Espíritos que se lhe poderiam contrapor e, conforme a necessidade, lhes tomam os nomes e mesmo a linguagem, com o fito de enganar.

 

Mas não podem representar este papel por muito tempo: com um pouco de contato com um observador experimentado e prevenido, logo são desmascarados. Se o médium se deixa dominar por essa influência os bons Espíritos se afastam, ou absolutamente não vêm quando chamados, ou vêm com certa repugnância, porque veem que o Espírito que está identificado com o médium, e neste estabeleceu o seu domicílio, pode alterar as suas instruções. Se tivermos que escolher um intérprete, um secretário, um mandatário qualquer, é evidente que escolheremos não só um homem capaz, mas, ainda, digno de nossa estima; não confiaremos uma delicada missão e os nossos interesses a um insano ou a um frequentador de uma sociedade suspeita. Dá-se o mesmo com os Espíritos. Os Espíritos superiores não escolherão, para transmitir instruções sérias, um médium que tem familiaridade com Espíritos levianos, a menos que haja necessidade e que não encontrem, no momento, outros medíocres à disposição; a menos, ainda, que queiram dar uma lição ao próprio médium, como por vezes acontece; mas, então, dele se servem só acidentalmente e o abandonam logo que encontrem um melhor, deixando-o entregue às suas simpatias se ele faz questão de conservá-las. O médium perfeito seria, pois, o que nenhum acesso desse aos maus Espíritos, por um descuido qualquer. É condição muito difícil de preencher. Mas se a perfeição absoluta não é dada ao homem, sempre lhe é possível por seus esforços aproximar-se dela; e os Espíritos levam em conta sobretudo os esforços, a força de vontade e a perseverança.

 

Assim, o médium perfeito não teria senão comunicações perfeitas de verdade e de moralidade. Desde que a perfeição é impossível, o melhor médium seria o que desse as melhores comunicações. É pelas obras que eles podem ser julgados. As comunicações constantemente boas e elevadas, nas quais nenhum indício de inferioridade fosse notado, seriam incontestavelmente uma prova da superioridade moral do médium, porque atestariam simpatias felizes. Pelo fato mesmo de que o médium não é perfeito, Espíritos levianos, embusteiros e mentirosos podem misturar-se em suas comunicações, alterando-lhes a pureza e induzindo em erro ao médium e àqueles que o procuram. Eis o maior escolho do Espiritismo, cuja gravidade não dissimulamos. É possível evitá-lo? Dizemos alto e bom som: sim, o meio não é difícil, exigindo apenas discernimento.

 

As boas intenções, a própria moralidade do médium nem sempre bastam para evitar a intromissão dos Espíritos levianos, mentirosos e pseudossábios nas comunicações. Além das falhas de seu próprio Espírito, pode dar-lhes entrada por outras causas das quais a principal é a fraqueza de caráter e uma confiança excessiva na invariável superioridade dos Espíritos que com ele se comunicam. Essa confiança cega reside numa causa que a seguir explicaremos.

 

Se não quisermos ser vítimas de Espíritos levianos, é necessário julgá-los, e para isso temos um critério infalível: o bom senso e a razão. Sabemos que as qualidades de linguagem, que caracterizam entre nós os homens realmente bons e superiores, são as mesmas para os Espíritos. Devemos julgá-los por sua linguagem. Nunca seria demais repetir o que a caracteriza nos Espíritos elevados: é constantemente digna, nobre, sem bazofia nem contradição, isenta de trivialidades, marcada por um cunho de inalterável benevolência. Os bons Espíritos aconselham; não ordenam; não se impõem; calam-se naquilo que ignoram. Os Espíritos levianos falam com a mesma segurança do que sabem e do que não sabem; a tudo respondem sem se preocuparem com a verdade. Em mensagem supostamente séria, vimo-los, com imperturbável audácia, colocar César no tempo de Alexandre; outros afirmavam que não é a Terra que gira em redor do Sol. Resumindo: toda expressão grosseira ou apenas inconveniente, toda marca de orgulho e de presunção, toda máxima contrária à sã moral, toda notória heresia científica é, nos Espíritos como nos homens, inconteste sinal de natureza má, de ignorância ou, pelo menos, de leviandade.

 

De onde se segue que é necessário pesar tudo quanto eles dizem, passando-o pelo crivo da lógica e do bom senso. Eis uma recomendação feita incessantemente pelos bons Espíritos. Dizem eles: Deus não vos deu o raciocínio sem propósito. Servi-vos dele a fim de saber o que estais fazendo. “Os maus Espíritos temem o exame. Dizem eles: Aceitai nossas palavras e não as julgueis”. Se tivessem a consciência de estar com a verdade, não temeriam a luz.

 

O hábito de perscrutar as menores palavras dos Espíritos, de lhes pesar o valor – do ponto de vista do conteúdo e não da forma gramatical, com que pouco se preocupam eles – naturalmente afasta os Espíritos mal intencionados, que não viriam então inutilmente perder o tempo, de vez que rejeitamos tudo quanto é mau ou tem origem suspeita. Mas quando aceitamos cegamente tudo quanto dizem, quando, por assim dizer, nos ajoelhamos ante sua pretensa sabedoria, eles fazem o que fariam os homens, eles abusam de nós.

 

Se o médium for senhor de si, se não se deixar dominar por um entusiasmo irrefletido, poderá fazer o que aconselhamos. Mas acontece frequentemente que o Espírito o subjuga a ponto de o fascinar, levando-o a considerar admiráveis as coisas mais ridículas; então ele se entrega cada vez mais a essa perniciosa confiança e, estribado em suas boas intenções e em seus bons sentimentos, julga isto suficiente para afastar os maus Espíritos. Não, isso não basta: esses Espíritos ficam satisfeitos por fazê-lo cair na cilada, para o que aproveitam sua fraqueza e sua credulidade. Que fazer, então? Expor tudo a uma terceira pessoa desinteressada, para que esta, julgando com calma e sem prevenção, possa ver um argueiro onde o médium não via uma trave.

 

A ciência espírita exige uma grande experiência que só se adquire, como em todas as ciências filosóficas ou não, através de um estudo longo, assíduo e perseverante, e por numerosas observações. Ela não abrange apenas o estudo dos fenômenos, propriamente ditos, mas também e sobretudo os costumes, se assim podemos dizer, do mundo oculto, desde o mais baixo ao mais alto grau da escala. Seria presunção julgar-se suficientemente esclarecido e graduado como mestre depois de alguns ensaios. Não seria esta a pretensão de um homem sério, pois quem quer que lance um golpe de vista indagador sobre esses estranhos mistérios, vê desdobrar-se à sua frente um horizonte tão vasto que longos anos não bastam para o abranger. Há entretanto quem o queira fazer em alguns dias!

 

De todas as disposições morais, a que maior entrada oferece aos Espíritos imperfeitos é o orgulho. Este é para os médiuns um escolho tanto mais perigoso quanto menos o reconhecem. É o orgulho que lhes dá a crença cega na superioridade dos Espíritos que a eles se ligam porque se vangloriam de certos nomes que eles lhes impõem. Desde que um Espírito lhes diz: Eu sou Fulano, inclinam-se e não admitem dúvidas, porque seu amor próprio sofreria se, sob tal máscara, encontrasse um Espírito de condição inferior ou um malvado desprezível. O Espírito percebe e aproveita o lado fraco, lisonjeia seu pretenso protegido, fala-lhe de origens ilustres, que o enfunam ainda mais, promete-lhe um futuro brilhante, honra e fortuna, de que parece ser o distribuidor; se for necessário, mostra por ele uma ternura hipócrita. Como resistir a tanta generosidade? Numa palavra, ele o embrulha e o leva pelo beiço, como se diz vulgarmente; sua felicidade é ter alguém sob sua dependência.

 

Interrogamos a vários deles sobre os motivos de sua obsessão. Um dos mesmos assim nos respondeu. “Quero ter um homem que me faça a vontade. É o meu prazer”. Quando lhe dissemos que íamos fazer tudo para descobrir os seus artifícios e tirar a venda dos olhos de seu oprimido, disse. “Lutarei contra vós e não tereis resultado, porque farei tais coisas que ele não vos acreditará”. É, com efeito, uma das táticas desses Espíritos malfazejos: inspiram a desconfiança e o afastamento das pessoas que os podem desmascarar e dar bons conselhos. Jamais acontece coisa semelhante com os bons Espíritos. Todo Espírito que insufla a discórdia, que excita a animosidade, que entretém os dissentimentos revela, por isso mesmo, sua natureza má. Seria preciso ser cego para não compreender isso e para crer que um bom Espírito possa arrastar à desinteligência.

 

Muitas vezes o orgulho se desenvolve no médium à medida que cresce a sua faculdade. Esta lhe dá importância. Procuram-no e ele acaba por sentir-se indispensável. Daí, muitas vezes, um tom de jactância e de pretensão ou uns ares de suficiência e de desdém, incompatíveis com a influência de um bom Espírito. Aquele que cai em tal engano está perdido, porque Deus lhe deu sua faculdade para o bem e não para satisfazer sua vaidade ou transformá-la em escada para a sua ambição. Esquece que esse poder, de que se orgulha, pode ser retirado que, muitas vezes, só lhe foi dado como prova, assim como fortuna para certas pessoas. Se dele abusa, os bons Espíritos pouco a pouco o abandonam e o médium se torna um joguete de Espíritos levianos, que o embalam com suas ilusões, satisfeitos por terem vencido aquele que se julgava forte. Foi assim que vimos o aniquilamento e a perda das mais preciosas faculdades que, sem isso, se teriam tornado os mais poderosos e os mais úteis auxiliares.

 

Isto se aplica a todos os gêneros de médiuns, quer de manifestações físicas, quer para comunicações inteligentes. Infelizmente o orgulho é um dos defeitos que somos menos inclinados a reconhecer em nós e menos ainda a acusar nos outros, porque eles não acreditariam. Ide dizer a um médium que ele se deixa conduzir como uma criança: ele virará as costas, dizendo que sabe conduzir-se e que não vedes as coisas claramente. Podeis dizer a um homem que ele é bêbado, debochado, preguiçoso, incapaz e imbecil; ele rirá ou concordará; dizei-lhe que é orgulhoso e ficará zangado. É a prova evidente de que tereis dito a verdade. Neste caso os conselhos são tanto mais difíceis quanto mais o médium evita as pessoas que os possam dar: foge de uma intimidade que teme. Os Espíritos, sentindo que os conselhos são golpes desferidos no seu poder, empurram o médium, ao contrário, para quem lhe alimente as ilusões. Preparam-se, assim, muitas decepções, com o que sofrem muito o amor próprio do médium. Feliz dele se não lhe resultarem ainda coisas mais graves.

 

Se insistimos longamente sobre este ponto foi porque nos demonstrou a experiência, em muitas ocasiões, que isto constitui uma das grandes pedras de tropeço para a pureza e a sinceridade das comunicações dos médiuns. Diante disto, é quase inútil falar das outras imperfeições morais, tais como o egoísmo, a inveja, o ciúme, a ambição, a cupidez, a dureza de coração, a ingratidão, a sensualidade, etc. Cada um compreende que elas são outras tantas portas abertas aos Espíritos imperfeitos ou, pelo menos, causas de fraqueza. Para repelir esses Espíritos não basta dizer-lhes que se vão; nem mesmo basta querer e ainda menos conjurá-los. É necessário fechar-lhes a porta e os ouvidos, provar-lhes que somos mais fortes – o que seremos incontestavelmente pelo amor do bem, pela caridade, pela doçura, pela simplicidade, pela modéstia e pelo desinteresse, qualidades que nos atraem a benevolência dos bons Espíritos. É o apoio destes que nos dá força; e se estes por vezes nos deixam a braços com os maus, é isso uma prova para a nossa fé e para o nosso caráter.

 

Que os médiuns não se arreceiem demasiado da severidade das condições de que acabamos de falar: estas são lógicas, havemos de convir, e seria erro desanimar. É certo que as más comunicações que podemos receber são índice de alguma fraqueza, mas nem sempre sinal de indignidade. Podemos ser fracos, mas bons. Em qualquer caso; temos nelas um meio de reconhecer as próprias imperfeições. Já dissemos no outro artigo que não é necessário ser médium para estar sob a influência de maus Espíritos, que agem na sombra. Com a faculdade mediúnica o inimigo se mostra e se trai: ficamos sabendo com quem tratamos e poderemos combatê-lo. É assim que uma comunicação má pode tornar-se uma lição útil, se a soubermos aproveitar.

 

Seria injusto, aliás, atribuir todas as comunicações más à conta do médium. Falamos daquelas que ele obtém sozinho e fora de qualquer outra influência, e não das que são produzidas num meio qualquer. Ora, todos sabem que os Espíritos atraídos por esse meio podem prejudicar as manifestações, quer pela diversidade de caracteres, quer pela falta de recolhimento. É regra geral que as melhores comunicações ocorrem na intimidade, num círculo concentrado e homogêneo. Em toda comunicação acham-se em jogo várias influências: a do médium, a do meio e a da pessoa que interroga. Estas influências podem reagir umas sobre as outras, neutralizar-se ou corroborar-se: isto depende do fim a que nos propomos e do pensamento dominante. Vimos excelentes comunicações obtidas em reuniões e com médiuns que não possuam todas as condições desejáveis. Neste caso os bons Espíritos vinham por causa de uma pessoa em particular, porque isso era útil. Vimos também más comunicações obtidas por bons médiuns, unicamente porque o interrogante não tinha intenções sérias e atraía Espíritos levianos, que dele zombavam.

 

Tudo isto requer tacto e observação. E compreende-se facilmente a preponderância que devem ter todas essas condições reunidas.

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Coma, amnésia e Espiritismo: realidades conciliáveis?

Como espírita e médico neurologista (nesta ordem), uma condição clínica geralmente grave, como o coma de pacientes em UTI, sempre me chamou a atenção. Do ponto de vista puramente material, o coma pode ser diagnosticado quando uma pessoa não demonstra percepção e reação com o meio ambiente. Em poucas palavras, o indivíduo mantém as funções neurovegetativas – como batimento cardíaco e respiração –, mas não exibe reação a estímulos visuais, auditivos e táteis. É comum, nesse cenário, que os médicos testem a reação dos pacientes em coma por meio de estímulos dolorosos, não obtendo, a seu turno, qualquer expressão facial de desconforto ou esboço de retirada da região exposta. Obviamente, não há ação de medicamentos sedativos por um período mínimo antes da avaliação.

Perguntas podem surgir: quais as causas do coma? O coma pode ser reversível? Sempre indica uma doença grave? É sinônimo de morte encefálica? Discorreremos, por um momento, sobre esse fascinante tema: o coma pode ter várias causas, entre elas condições clínicas como infecções generalizadas, distúrbios hidroeletrolíticos (aumento ou queda da concentração de eletrólitos no sangue), insuficiência renal ou hepática, uso de medicações com perfil sedativo, entre outras. A inconsciência deriva de uma patologia potencialmente reversível, e sua correção pode levar ao despertar do paciente. Recebe o nome de delirium hipoativo pelos médicos.

Por outro lado, o coma pode resultar de lesões encefálicas diretas, como hipoxia (falta de oxigênio), intoxicações, meningites, hidrocefalia, acidente vascular cerebral, tumores e traumas. Algumas dessas situações são reversíveis, outras, infelizmente, não. Se o centro de controle neurovegetativo do encéfalo não for comprometido, o paciente pode permanecer vivo, respirando sem aparelhos, mas sem contato elaborado com o ambiente; pode mesmo ter abertura e fechamento espontâneo dos olhos e esboçar alguma reação a estímulos dolorosos. Essa condição é chamada de estado minimamente consciente ou coma vigil. Contudo, se o paciente permanecer vivo por conta do suporte ventilatório de aparelhos e for comprovada a ausência de atividade elétrica cerebral, é constatada a morte encefálica – irreversível, motivo da suspensão dos cuidados intensivos e transplante de órgãos, se não houver contraindicações.

Portanto, um paciente que enfrentou um coma pode recobrar a consciência em determinado momento, mas isso não significa que ele retomará o contato sem algum prejuízo, seja motor, seja cognitivo. Todo esse preâmbulo tornou-se necessário em face de relato recente publicado por alguns meios de comunicação que reproduziram uma reportagem do jornal Messaggero, da Itália, no final do mês de outubro de 2024. É descrito um caso clínico inusitado: um paciente italiano que fora vítima de acidente automobilístico em 2019 ficou em coma alguns dias e quando despertou acreditava viver em 1980. Segundo as fontes, o paciente teria esquecido tudo o que havia ocorrido a partir do dia 20 de março de 1980 até o presente, incluindo vínculos familiares, como sua esposa e filho, que nasceu depois desse período. Considerava-os como estranhos, não demonstrando qualquer relação afetiva com eles. Após sua recuperação, encontrou trabalho na manutenção de uma escola, mas teria tido “uma nova vida” a partir de seu despertar.

O caso desse italiano chama a atenção porque passa a impressão de que suas outras funções cognitivas se mantiveram preservadas. Convenhamos que se um trauma foi o motivo de seu coma é porque foi grave e deve ter-lhe causado outras sequelas neurológicas. Mesmo assim, assumindo que apenassua memória das últimas décadas tenha sido comprometida, surgem algumas dúvidas, incluindo como ele poderia se comportar daquele momento em diante, uma vez que vários elementos que delinearam sua personalidade, suas inclinações, suas paixões e aversões ficaram pelo caminho. Seria uma espécie de teletransporte sem escalas pelo tempo, saindo de 1980 para 2019, restando rugas e cabelos brancos, notando a ausência de familiares, amigos e toda a atmosfera da época.

Da perspectiva espiritual, onde esteve o perispírito desse paciente? Teve ele experiências extrafísicas, como as relatadas durante o sono, ou também se manteve inerte como seu corpo? Obteve lições que auxiliaram em sua evolução? Sofreu, ciente de sua inatividade? Creio que não há uma resposta única para todos os casos. Os Espíritos, ao encarnarem, possuem diferentes estágios de evolução e compreensão da dimensão extrafísica. Se o indivíduo for ainda muito apegado à realidade e aos valores materiais, seu referencial será seu corpo físico – ele terá a percepção de um aprisionamento, sofrendo as impressões rudimentares e frequentemente desconfortáveis de um meio estagnado. Isso poderia servir-lhe de expiação e oportunidade de reflexão.

Entretanto, se o Espírito encarnado for mais evoluído, pode relacionar-se com outros de sua mesma condição, recebendo amparo e elucidação. Seria uma espécie de entreposto, não lhe causando tanto sofrimento como seria esperado. O período de coma, ainda, pode ser visto como uma fase de recuperação ou tratamento espiritual. O Espírito pode estar passando por um processo de cura ou aprendizado no plano espiritual, assistido por mentores e guias espirituais. Embora o Espírito possa estar consciente em algum nível, a comunicação com o mundo físico é geralmente limitada. No entanto, há relatos de experiências em que o Espírito consegue perceber a presença e as emoções de seus entes queridos ao seu redor.

Algo curioso ainda: o lapso temporal e a convicção do paciente em questão, que acreditava ainda viver em 1980. Há algumas ideias interessantes para justificar esse fenômeno; uma delas é que a percepção de tempo é um construto do ser humano, relativo, interpretativo. A ciência moderna já confirmou essa impressão, por meio da física quântica. Logo, um Espírito que suportou a experiência de coma poderá convencer-se de que não se passaram mais do que alguns dias ou meses. Outro, contrariamente, relatará a experiência de mais tempo do que o referencial terrestre. São muito comuns as comunicações de Espíritos desencarnados há séculos que acreditam ainda viver no tempo em que deixaram o envoltório material. Há relatos, não obstante, de indivíduos que reencarnam muito rapidamente e sem uma experiência clara do plano espiritual. Novamente, cada caso é singular.

Sob a óptica espiritual, há sempre a possibilidade de reflexão e aprendizado, mesmo em situações tão penosas, tal o coma e suas possíveis sequelas neurológicas. Apesar de limitada compreensão dos processos mentais e emocionais que ocorrem durante o coma, é certo que há a oportunidade de reparação, depuração e aprendizado espirituais, em maior ou menor escala. Independentemente da deficiência advinda do coma, como a amnésia lacunar descrita no caso acima, existe a possibilidade de evolução: o paciente pode não reconhecer seus familiares próximos, entretanto, pode reiniciar o processo de aproximação de Espíritos que foram designados para trilharem juntos a passagem pela Terra. Eles, por sua vez, precisarão exercer o amor verdadeiro ao acolhê-lo, mesmo com o açoite constante do esquecimento de todas as experiências que tiveram até ali, exercendo abnegação e devotamento.

O que do ponto de vista do ser encarnado parece uma eternidade não passa de um piscar de olhos diante da perspectiva do Criador.

Caio Grava Simioni é médico espírita e neurologista do Grupo de Cefaleias do Hospital das Clínicas da FMUSP; médico colaborador do Lar do Alvorecer Marlene Nobre.

Fonte: Jornal – Folha Espírita

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Sobre a mediunidade curadora

Em 1864, em Imitation de l’Évangile selon le Spiritisme, título original de O evangelho segundo o espiritismo, Allan Kardec publicou interessantes comentários sobre a mediunidade de cura, que não foram incluídos nas edições seguintes. Vale conferir:

 A mediunidade curadora consiste na faculdade de curar ou aliviar pela imposição das mãos, e por vezes unicamente pela ação da vontade. Para tanto é preciso infundir ao enfermo um fluido reparador, cuja virtude [curadora] está na razão de sua pureza. O fluido dos encarnados participa sempre, em maior ou menor grau, das qualidades materiais do corpo, ao mesmo tempo em que se altera pelas paixões e sofre a influência moral do Espírito. É, portanto, impossível que o fluido próprio de um encarnado seja de uma pureza absoluta. Essa é a razão pela qual sua ação curadora é sempre lenta, e amiúde nula; somente a dos Espíritos superiores está isenta das impurezas da matéria, sendo, de certo modo, quintessenciada; conseguintemente, sua ação deve ser mais salutar e mais rápida; é o fluido benfazejo por excelência. É a esse fluido que o médium curador serve de condutor. O que distingue o magnetizador ordinário do médium curador é que o primeiro magnetiza com seu próprio fluido, ao passo que o segundo magnetiza com o fluido puro dos bons Espíritos. Trata-se, assim, de dois gêneros de magnetismo, que se distinguem por sua origem: o magnetismo humano e o magnetismo espiritual.

Auxílio dos bons espíritos

A mediunidade curadora requer, portanto, como condição absoluta, o auxílio dos bons Espíritos. Por mais puro que seja, um licor sempre se altera ao passar por um vasilhame impuro. O mesmo se dá com o fluido dos Espíritos superiores, ao passar pelos encarnados. Daí advém, para as pessoas em quem se revele essa preciosa faculdade, e que desejem que ela se engrandeça, ao invés de se perder, a necessidade de trabalhar incessantemente para sua melhoria moral.

Uma vez que os fluidos benfazejos são próprios aos Espíritos superiores, é desses Espíritos que é preciso que se obtenha ajuda. Para tanto, a prece e a invocação são necessárias. Mas para orar, e sobretudo para orar com fervor, é necessário ter fé. Para que a prece seja ouvida, ela tem de ser feita com humildade, e ditada por um sentimento de benevolência e caridade. (…) Se há uma faculdade dada por Deus com objetivo santo, é, sem dúvida, a da mediunidade curadora, porque exige, imperiosamente, o concurso dos Espíritos superiores, e tal concurso não pode ser concedido ao charlatanismo, à cupidez e ao orgulho. Essa faculdade se revela pelos resultados positivos. O desejo de possuí-la para um objetivo útil pode desenvolvê-la; a pretensão não a dá. O orgulho, o egoísmo, a cupidez, a ambição e todos os sentimentos contrários à verdadeira caridade fazem que se perca; pode ser retirada gradual ou instantaneamente. Dentre todas as faculdades mediúnicas, é uma das que menos se prestam à exploração.

O papel da fé

 A fé, por parte do enfermo, não é absolutamente necessária, porém ajuda poderosamente, pois se ele ora atrai para si os bons Espíritos, que podem querer recompensar sua confiança em Deus, como podem também querer punir sua incredulidade. Essa a razão pela qual Jesus muitas vezes dizia àqueles a quem curava: “Ide!, vossa fé vos salvou.”

 Se a mediunidade curadora, no sentido rigoroso do termo, é privilégio de certas pessoas especialmente dotadas, está no poder de qualquer um, médium ou não, de pedir, para um enfermo, a assistência dos bons Espíritos, e de exercer, por si só, uma ação direta mais ou menos salutar sobre ele, pelo pensamento fortalecido pela vontade, pela prece fervorosa e um ardente desejo de aliviar seus sofrimentos.

Compreende-se facilmente que em tais casos unicamente a fé e a intenção podem conferir à prece as qualidades necessárias. (…) Para que a ação seja mais eficaz, é útil que se dê uma base ao pensamento e se compreenda a maneira pela qual ela se produz, concebendo-a como uma corrente fluídica que, no momento em questão, se estabelece entre aquele que ora e o paciente, que recebe assim um eflúvio benfazejo.

O poder dessa ação necessariamente aumenta quando várias pessoas se unem, pela intenção, para obter o mesmo resultado.

A prece, nessas circunstâncias, torna-se todo-poderosa; mas mesmo que não seja suficiente para levar a uma cura completa, e mesmo que o doente sucumba, não se deve concluir que não teve nenhum resultado. Não conseguisse ela senão dar a calma moral e amenizar os sofrimentos dos últimos instantes, já seria alguma coisa. Tem, porém, um efeito ainda mais importante: tornar a passagem de uma vida à outra menos penosa, auxiliando o desprendimento da alma. Além disso, ainda que a vida não se tenha, por efeito da prece, prolongado senão de umas poucas horas, isso já poderá propiciar ao enfermo salutares reflexões para o seu porvir.

Os comentários de Kardec

A mediunidade curadora tem diferentes graus de poder. Os que a possuem no mais alto grau obtêm curas quase instantâneas por um simples toque, e algumas vezes só pelo olhar. Alguns atuam eficazmente mesmo à distância, dirigindo para o enfermo o pensamento. Certos médiuns curadores são também dotados de uma segunda vista, que lhes permite, sem que estejam em sono magnético, ver o mal interno e descrevê-lo. Nem todas as curas se obtêm com a mesma prontidão, o que depende tanto da natureza da doença como do poder do médium. Casos há em que se fazem necessárias muitas emissões fluídicas, raramente porém de mais de cinco a dez minutos cada uma.

Novos horizontes

A mediunidade curadora vem abrir novos horizontes à ciência, provando-lhe que existe algo além do que ela conhece e ensina. Foi com vistas a fazê-la sair da trilha do materialismo, abalando os incrédulos por fatos numerosos e autênticos, que os fenômenos desse gênero tendem hoje a se multiplicar, como já foi anunciado. Para que ficasse demonstrado que essa faculdade não é nem uma exceção, nem um dom maravilhoso, e sim a aplicação de uma força natural, de uma lei até agora desconhecida, era preciso que os instrumentos se multiplicassem. É um dos mil modos providenciais empregados para apressar o estabelecimento do espiritismo, e que terá, além disso, o resultado de fazer que a medicina entre num novo caminho. Se tão frequentemente ela fracassa, é porque não vê senão a matéria. Quando levar em conta, na economia orgânica, a ação do elemento espiritual, e quando os médicos souberem se fazer auxiliar pelos bons Espíritos, a medicina triunfará naqueles casos em que agora se vê forçada a admitir sua impotência.

Além da matéria

Não vendo em seu enfermo senão uma máquina desorganizada, o médico materialista busca apenas restaurar a matéria por meio da matéria. Como não se dá conta da existência da alma, dela não se ocupa. Conhecesse, porém, o papel fisiológico da alma e de seu perispírito, bem como as relações fluídicas existentes entre o Espírito e a matéria, compreenderia ele a reação salutar que o Espírito pode operar sobre os órgãos, agindo sobre a alma pelo pensamento, tornando-se ao mesmo tempo médico da alma e médico do corpo. O pulso, as oscilações, não passam, para ele, de sintomas materiais. Mas se seu pensamento não se limitasse à matéria tangível, ao tomar o pulso poderia fazer correr nas veias do enfermo um eflúvio benfazejo mais eficaz que os medicamentos; pelo olhar infundiria nele um fluido reparador capaz de apressar a cura. Numa palavra: com a fé e a assistência dos bons Espíritos o médico decuplicaria os recursos da ciência e operaria prodígios. A mediunidade curadora não vem, portanto, destronar a medicina, nem os médicos em geral, mas apenas a medicina e os médicos materialistas.

Fonte: correio.news

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É necessário rever velhos paradigmas

Modelamos a nossa personalidade a partir do aprendizado recebido desde a infância e das vivências que acumulamos ao longo desta e de outras existências. Assim, é normal termos princípios que norteiam as nossas experiências diárias e influenciam diretamente as nossas decisões.

Até aí não é novidade para ninguém. Entretanto, durante o percurso, vamos formando paradigmas que sustentam o nosso olhar sobre as coisas e as outras pessoas. Elaboramos dentro de nós, ou simplesmente assimilamos de outrem, os padrões com os quais “medimos” as outras pessoas, que, na maioria das vezes, estão longe de corresponderem à nossa realidade, ao que consideramos correto.

Nosso entendimento na maior parte do tempo é que o “certo” é tudo o que guarda correspondência com os nossos princípios e paradigmas. Assim, com essa métrica, avaliamos os outros em seu comportamento e decisões, sem nos darmos o trabalho de ponderar, incluindo outras variáveis que considerem, também, a realidade do outro.

Sob o mesmo prisma, julgamos as pessoas. E quantas vezes nos enganamos? Quantas vezes somos injustos? Quantas oportunidades abençoadas de fazer novas amizades deixamos passar? E não é somente no campo pessoal que os paradigmas precisam ser revistos com frequência, a fim de se evitar o mal que impede que o bem floresça e faça o melhor à sua volta. Também as nossas instituições estão eivadas de falsos paradigmas.

Espelhemo-nos no Mestre Jesus. Em sua passagem pela Terra, nunca julgou ninguém, nunca impôs o conhecimento profundo que tinha em relação à verdade que possuía. Ele era o filho dileto do Pai Maior e deixava que as pessoas discernissem por si a respeito dos seus ensinamentos difundidos democraticamente.

Deixava todos perplexos com suas atitudes simples, sem afetação, fazendo calar a todos naturalmente. Ele abordava as pessoas sem preconceitos; ele não tinha paradigmas porque tinha a verdade. Já pensaram nisso? Encontramos no Evangelho diversas passagens do Mestre que demonstram exatamente o que estamos abordando.

Lembram-se da mulher samaritana que estava tirando água do Poço de Jacó. Jesus vinha com alguns dos discípulos, cansado da caminhada, e pediu à mulher um pouco de água para aplacar a sua sede. Ela estranhou muito, porque os judeus não falavam com os samaritanos. Não lhe dirigiam a palavra em hipótese alguma. Inclusive os próprios discípulos que o acompanhavam estranharam o comportamento do Mestre.

E o que se sucedeu? Não só Jesus falou com a mulher como também lhe ofereceu a água que ele poderia ofertar, a água para matar a sede do Espírito. A passagem conta, inclusive, que a mulher chamou outras pessoas, que também se puseram a ouvir a palavra do enviado de Deus.

Percebeu a grandeza do ensinamento trazido pela palavra? Que oportunidade bendita não só para aquela mulher, mas para as outras pessoas que ela chamou, de ouvir o Mestre pessoalmente? Sabe-se lá quantos Jesus conseguiu auxiliar naquela hora? Certamente, isso não aconteceria se Jesus se deixasse orientar pelos paradigmas judaicos. Afinal, ele era judeu!

Assim, nas devidas proporções, ocorre conosco. Quantas oportunidades de crescimento deixamos passar? Quantas oportunidades de ajudar alguém? De levar o conforto para aquele que sofre? Porque agimos de acordo com os velhos paradigmas. Agora, se de um lado temos de rever nossos velhos paradigmas para abrir nossos horizontes no sentido de ser uma pessoa melhor, também não podemos, por nossa vez, impor as nossas crenças e verdades aos outros. Acima de tudo, devemos respeitar as convicções das outras pessoas. Note que Jesus não disse “vocês estão errados”, nem entrou em confronto com as convicções da mulher. Ele falou com a anuência dela, que manifestou interesse em experimentar da água trazida por Jesus.

Para terminar, vou contar uma historinha que vem ao encontro do que acabamos de falar. Um homem estava colocando flores no túmulo de um parente quando viu um chinês colocando um prato de arroz na lápide ao lado. Ele se virou para o chinês e perguntou:  “Desculpe-me, mas o senhor acha mesmo que seu defunto virá comer o arroz?” E o chinês respondeu: “Ah, sim! Geralmente na mesma hora em que o seu vem cheirar as flores…”

Fonte: Folha Espíritia

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Parentes Complexos

 

 

Parece questão simples, mas não é: os parentes complexos.

 

Discutimos, deblateramos no assunto.

 

Entretanto, exceção feita aos portadores de moléstias congênitas, somente erradicáveis nos tratamentos da reencarnação, se encontramos um parente difícil, a verdade é que também seremos para ele um parente difícil, pelo menos, durante o período de tempo, em que se nos perdure o desacordo.

 

Conservemos serenidade e paciência, a frente dos familiares que se nos mostrem irritadiços ou intolerantes.

 

Quem de nós na Terra, não terá tido determinados momentos de perplexidade ou inquietação?

 

O olhar amargurado de um pai ou um semblante materno toldado de tristeza, talvez nos escondam graves preocupações para que não nos faltem reconforto e alegria.

 

O irmão desorientado, a irmã queixosa, o esposo que se patenteie acabrunhado ou a esposa que se revele fatigada e abatida, terão motivos para isso, tanto quanto, mantínhamos as nossas razões para enfado ou aborrecimento, quando no estágio terrestre.

 

Saibamos respeitar sempre os entes queridos, notadamente quando atravessam tempestades na vida íntima, cujas minudências não nos será lícito investigar. Esperemos que saibam vencer por si mesmos as tribulações que os visitam, evitando os interrogatórios indesejáveis e as perguntas fora de tempo, que estimaríamos dispensar igualmente se estivéssemos no lugar deles.

 

Compreendamos que, no mundo físico, bastas vezes, somos impelidos a seguir adiante, através de veredas empedradas, em benefício de nossas próprias experiências. E, sobretudo, estejamos convencidos de que não teremos parentes-enigmas e nem seremos familiares-problemas para ninguém se cultivarmos a paz e se tivermos amor.

 

Meimei do livro Esperança e Vida de Chico Xavier e Carlos A. Bacelli / Espirítos diversos

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Tipos de Mediunidade

 

Sthephannie Silva

 

A mediunidade é um fenômeno central no Espiritismo, uma Doutrina que propõe uma compreensão ampliada da existência humana, que vai além do mundo material. No contexto Espírita, a mediunidade é vista como a capacidade natural que alguns indivíduos possuem de estabelecer uma ponte entre o plano físico e o Plano Espiritual.  Allan Kardec, o codificador da Doutrina Espírita, dedicou grande parte de suas obras ao estudo e compreensão desse fenômeno. A mediunidade no Espiritismo é considerada uma faculdade natural, presente em maior ou menor grau em todos os Seres Humanos. Ela se manifesta de diversas formas e pode ser classificada em diferentes tipos, conforme suas características e modos de manifestação. Entre os principais tipos de mediunidade estão a vidência (clarividência), a audição (clariaudiência), a incorporação (psicofonia), a psicografia, a cura e a intuição.

 

No Espiritismo, a mediunidade é entendida como um instrumento de comunicação entre os dois planos da existência, permitindo que Espíritos desencarnados transmitam mensagens, orientações e ensinamentos para os vivos. Essas comunicações mediúnicas têm o propósito de oferecer consolo, esclarecimento e auxílio espiritual para aqueles que estão em busca de conhecimento e orientação. A prática mediúnica no Espiritismo é orientada por princípios éticos e morais, visando sempre o bem e o progresso espiritual de todos os envolvidos. Os médiuns são orientados a desenvolverem suas faculdades de forma responsável, mantendo uma postura de humildade, amor e serviço ao próximo. Eles são incentivados a trabalharem em conjunto com os Espíritos Superiores, que atuam como Mentores e Guias Espirituais, oferecendo orientação e amparo durante as sessões mediúnicas.

 

Nossa vida não é material, é espiritual, e como tal, regida pela mente. Alimentamo-nos de matéria para sustento do corpo, mas vivemos de anseios, sonhos, aspirações, ideias e impulsos espirituais que brotam do nosso íntimo ou nos chegam em forma de sugestão e, às vezes, de envolvimento emocional do meio em que vivemos, das mentes encarnadas e desencarnadas que nos cercam e convivem conosco. A técnica espírita é simples e natural. Basta-nos lembrar que somos indivíduos e não massa, que a nossa individualidade é definida e nos caracteriza como personalidades livres e responsáveis. Tomando consciência disso, deixamos de nos entregar a influências estranhas, assumimos a jurisdição de nós mesmos, tomamos o volante do corpo em nossas mãos e aprendemos a guiar-nos com a lucidez necessária. Aprendemos a distinguir as nossas ideias das ideias que nos são transmitidas pelos outros. Podemos examinar tudo, como ensinava o Apóstolo Paulo, sabendo que tudo nos é lícito, mas nem tudo nos convém. Exercitando esse critério íntimo conseguimos adestrar-nos na direção de nossas intenções, repelindo tudo o que possa prejudicar os outros e aceitando apenas o que nos ajude a ser mais úteis ao mundo. A prática espírita da vida supera a pouco e pouco a nossa insegurança, os nossos desajustes, reequilibrando-nos em nossa personalidade. A mediunidade é a nossa bússola e devemos aplicá-la sem complicações em nossa conduta. Mantendo a mente livre e confiante — livre do medo, das desconfianças infundadas, da pretensão vaidosa, dos interesses mesquinhos, e confiante nas Leis da Vida e na integridade do ser, tornando nossa mente aberta e flexível (PIRES, 1984, pag. 61).

 

Mediunidade de Vidência (Clarividência): Neste tipo de mediunidade, o médium é capaz de receber imagens ou visões do Plano espiritual. Essas visões podem se manifestar de forma mental, através da mente do médium, ou de forma física, quando o médium vê imagens com os olhos físicos. Para identificar essa mediunidade, é importante observar se o indivíduo possui sonhos premonitórios, visões ou flashes de imagens inexplicáveis.

 

Mediunidade de Audição (Clariaudiência): Aqui, o médium é capaz de ouvir vozes, sons ou palavras do Plano Espiritual. Essas comunicações podem ocorrer de forma interna, na mente do médium, ou externa, quando são ouvidas como se fossem vozes físicas. A identificação desse tipo de mediunidade pode se dar através da percepção de sons inexplicáveis ou da sensação de ouvir vozes interiores.

 

Mediunidade de Psicofonia ou Incorporação: Nesse tipo de Mediunidade, o médium permite que um Espírito utilize seu aparelho fonador para se comunicar verbalmente. Durante esse processo, o médium pode perder a consciência total ou parcial, enquanto o Espírito se expressa através de sua voz e de sua personalidade. A identificação desse tipo de mediunidade pode ocorrer através de mudanças repentinas de voz, de comportamento ou de características pessoais durante um transe mediúnico.

 

Mediunidade de Psicografia: Aqui, o médium escreve mensagens transmitidas por Espíritos utilizando um instrumento de escrita, como papel e lápis. Essas mensagens podem conter orientações, conselhos ou mensagens de amor e esperança. Para identificar essa mediunidade, é importante observar se o médium tem facilidade em receber mensagens escritas de forma intuitiva, semelhante à escrita automática.

 

Mediunidade de Cura: Neste tipo de mediunidade, o médium atua como um canal de energia curativa, através do qual a energia espiritual é transmitida para promover a cura física, emocional ou espiritual das pessoas. Essa energia pode ser direcionada através das mãos, da mente ou mesmo à distância. A identificação desse tipo de mediunidade pode ocorrer através da capacidade do médium de aliviar dores ou desconfortos através de suas mãos ou de sua presença.

 

Mediunidade de Intuição: Aqui, o médium recebe orientações, sentimentos ou impressões intuitivas do Plano Espiritual. Essas percepções podem ser utilizadas para orientar e aconselhar outras pessoas, proporcionando perspectivas úteis para suas vidas. A identificação desse tipo de mediunidade pode ocorrer através da capacidade do médium de receber informações intuitivas sobre situações ou pessoas, sem necessariamente entender como essas informações são obtidas.

 

O ato mediúnico é o momento em que o Espírito comunicante e o médium se fundem na unidade psico-afetiva da comunicação. O Espírito aproxima-se do médium e o envolve nas suas vibrações espirituais. Essas vibrações irradiam-se do seu corpo espiritual atingindo o corpo espiritual do médium. A esse toque vibratório, semelhante ao de um brando choque elétrico, reage o perispírito do médium. Realiza-se a fusão fluídica. Há uma simultânea alteração no psiquismo de ambos. Cada um assimila um pouco do outro. Uma percepção visual desse momento comove o vidente que tem a ventura de captá-la. As irradiações perispirituais projetam sobre o rosto do médium a máscara transparente do Espírito. Compreende-se então o sentido profundo da palavra intermúndio. Ali estão, fundidos e ao mesmo tempo distintos, o semblante radioso do Espírito e o semblante humano do médium, iluminado pelo suave clarão da realidade espiritual. Essa superposição de planos dá aos videntes a impressão de que o Espírito comunicante se incorpora no médium (Pires, 1984, pag.19).

 

Para começar a utilizar a mediunidade em prol da Espiritualidade, é importante que o médium desenvolva sua sensibilidade espiritual através da prática da meditação, da oração e do autoconhecimento. Além disso, é fundamental buscar orientações e instruções de pessoas experientes e éticas no campo da Espiritualidade, que possam oferecer suporte e direcionamento ao médium em seu processo de desenvolvimento mediúnico. Ao utilizar a mediunidade de forma consciente e responsável, o médium pode se tornar um instrumento de amor, luz e cura, contribuindo para o bem-estar e o crescimento espiritual de si mesmo e dos outros.

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Referência:

Pires, José Herculano – Mediunidade: vida e comunicação: conceituação da 5º ed mediunidade e análise geral dos seus problemas atuais. 5.a ed. — São Paulo: EDICEL, 1984.

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Kardec, racismo e espiritismo

 

Jorge Hessen

O racismo(2) é um tema pouco abordado nas hostes doutrinárias. A bibliografia é escassa. Os escritores e estudiosos espíritas brasileiros ainda não se debruçaram com maior profundidade sobre o assunto. Para alguns, as poucas análises sobre a questão do segregacionismo e da escravidão do negro, no Espiritismo deixam transparecer as influências da teoria arianista (3), da visão positivista e idealista da história, desconsiderando os fatos nos seus relativismos e contradições.

Para a investigação kardequiana, a respeito do negro, torna necessário ser considerado o contexto histórico em que foi discutida a temática. Incidiria em erro, sob o ponto de vista histórico, considerar Allan Kardec contaminado de preconceitos ou de índole racista. Essa palavra detém uma carga semântica muito forte, inadequada para definir os ideais do mestre lionês. Não há nenhum indício de que ele tenha discriminado algum indivíduo ou grupo de origem negra ou quaisquer indivíduos, sejam no movimento espírita ou fora dele.

A jornalista Dora Incontri, com mestrado e doutorado em Educação, pela USP, em seu livro Para entender Kardec, nos trás um fato interessante que muito bem nos dará uma idéia de quem era o senhor Rivail. Vejamos: “É bom lembrar que, na Sociedade de Estudos Espíritas de Paris, havia um Camille Flammarion, astrônomo, e um calceteiro (operário braçal que fazia as calçadas de Paris, de quem Kardec noticia a morte) e ambos eram membros da Sociedade”.(4) Os contraditores de Kardec se valem de textos insertos na Revista Espírita e principalmente em Obras Póstumas, 1ª parte, capítulo da “Teoria da Beleza”.

A rigor não consideramos essa teoria um ponto doutrinário e muito menos consta das Obras Básicas. Trata-se de uma pesquisa de Kardec que não chegou a publicá-la. Veio a público após o seu desencarne, quando algumas anotações deixadas foram reunidas no livro citado, donde se infere que aquele pensamento ainda não estava perfeitamente consolidado. Por justeza de razões importa lembrar que Kardec não compilou o Espiritismo em seu próprio nome. Ele atribuía a Doutrina como sendo dos Espíritos. Destarte, urge se faça distinção entre o que revelaram os Benfeitores Espirituais sob o princípio do consenso universal dos Espíritos e o que escreveu e pensava particularmente Kardec, inclusive na Revista Espírita.

No bojo da literatura basilar da Terceira Revelação, o Codificador ressalta que, “na reencarnação desaparecem os preconceitos de raças e de castas, pois o mesmo Espírito pode tornar a nascer rico ou pobre, capitalista ou proletário, chefe ou subordinado, livre ou escravo, homem ou mulher. Se, pois, a reencarnação funda numa lei da Natureza o princípio da fraternidade universal, também funda na mesma lei o da igualdade dos direitos sociais e, por conseguinte, o da liberdade.”(5) Ante os ditames da pluralidade das existências, ainda segundo Kardec “enfraquecem-se os preconceitos de raça, os povos entram a considerar-se membros de uma grande família.”(6)Como se observa, idéias essas que descaracterizam radicalmente um Kardec preconceituoso. (grifei)

Entretanto, apesar da atitude (para alguns preconceituosas) atribuída a Kardec em relação ao negro, fruto do contexto em que viveu (repetimos) sobre discriminação e preconceito a determinada etnia, sua obra sai indene de todas as críticas no sentido ético. Até porque para abordagem do tema é imprescindível contextualizá-lo de acordo com teorias de superioridade racial muito em voga na época. A frenologia, por exemplo, advogava uma relação entre a inteligência e a força dos instintos em um indivíduo com suas proporções cranianas. Uma espécie de “desdobramento” pseudocientífico da fisiognomonia.

Num artigo na Revista Espírita de abril de 1862, “Frenologia espiritualista e espírita – Perfectibilidade da raça negra”, Kardec faz uma espécie de releitura dessa “ciência” com um enfoque espiritualista, demonstrando que o “atraso” dos negros não se deveria a causas biológicas, mas por seus espíritos encarnados ainda serem relativamente jovens. (7)Indagamos: existem povos mais adiantados que outros? É possível desconhecer a discrepância entre silvícolas e citadinos? Se não é a diferença da evolução espiritual, o que os torna desiguais, então? É evidente que podemos adequar as terminologias para culturas “complexas ou simples” no lugar de “avançado ou atrasados”, o que na essência não altera a situação de ambos. Sabemos também [isso é incontestável] que a antropologia e a sociologia surgem eurocêntricas. E a antropologia foi uma espécie de sociologia criada para estudar os povos primitivos.(8) Contudo, a Doutrina Espírita tem mais amplitude do que toda essa questão. Para nós “não há muitas espécies de homens, há tão somente cujos espíritos estão mais ou menos atrasado, porém, todos suscetíveis de progredir pela reencarnação. Não é este princípio mais conforme à justiça de Deus?”(9)·

No livro Renúncia, monumental obra da literatura mediúnica, identificamos trecho que nos chamou a atenção para reflexão sobre o assunto. Robbie, filho de escravos e irmão adotivo de Alcione, ao desencarnar disse-lhe “desde que mandei os gendarmes (10) libertar o cocheiro, por entender que me cabia a culpa (…) sinto que não tenho mais a pele negra, que tenho a mão e a perna curadas (…) veja Alcione (…) e esta lhe explica: São estas as provas redentoras, meu querido Robbie! Deus te restitui a saúde da alma, por te considerar novamente digno.” (11)(grifei) Dá para imaginar o Espírito Alcíone racista…?E por que teriam os negros sofridos tanto com a escravidão? Segundo Humberto de Campos os escravos seriam “os antigos batalhadores das cruzadas, senhores feudais da Idade Média, padres e inquisidores, espíritos rebeldes e revoltados, perdidos nos caminhos cheios da treva das suas consciências polutas”.(12)

A concepção de que o homem possa encarnar na condição de branco, negro, mulato ou índio, estabelece uma ruptura com o preconceito e a discriminação raciais. Não esqueçamos, porém, que na Grã-Bretanha, ainda hoje, muitos adeptos do Neo-espiritualismo rejeitam a tese da reencarnação, por não admitirem a possibilidade de terem tido encarnações em posições inferiores quanto à raça e à condição social. Com essa visão, um Espírito, reencarnado num corpo de origem negra, estará sujeito à discriminação e isso lhe será uma condição, uma contingência evolutiva a ser superada.

Para uns pode ser uma expiação, para outros uma missão. Com os princípios espíritas se “apaga naturalmente toda a distinção estabelecida entre os homens segundo as vantagens corpóreas e mundanas, sobre as quais o orgulho fundou castas e os estúpidos preconceitos de cor”. (13)

Como se observa, uma doutrina libertária , como o Espiritismo, não compactua, sob quaisquer pretextos, com nenhuma ideologia que vise a discriminação étnica entre os grupos sociais.A verdade é que nos grandes debates de cunho sociológico, antropológico, filosófico, psicológico etc, o Espiritismo provocará a maior revolução histórica no pensamento humano, conforme está inscrito nas questões 798 e 799 de O Livro dos Espíritos, sobretudo, quando ocupar o lugar que lhe é devido na cultura e conhecimento humanos, pois seus preceitos morais advertirão aos homens a urgente solidariedade que os há de unir como irmãos, apontando, por sua vez, que o progresso intelecto-moral na vida de todos os Espíritos é lei universal, tomando, por modelo, Jesus, que ante os olhos do homem, é o maior arquétipo da perfeição que um Espírito pode alcançar.(14)

Jorge Hessen E-Mail:   jorgehessen@gmail.com

Site: ARTIGOS ESPÍRITAS – JORGE HESSEN: KARDEC, RACISMO E ESPIRITISMO – UMA REFLEXÃO

FONTES:

1- Xavier, Francisco Cândido. Caminhos da Vida, Ditada pelo Espírito Cornélio Pires, São Paulo: Ed. CEU, 1996.

2- O racismo, segundo a acepção do “Novo Dicionário Aurélio” é “a doutrina que sustenta a superioridade de certas raças”. O Conde de Gobineau foi o principal teórico das teorias racistas. Sua obra, “Ensaio Sobre a Desigualdade das Raças Humanas” (1855), lançou as bases da teoria arianista, que considera a raça branca como a única pura e superior às demais, tomada como fundamento filosófico pelos nazistas, adeptos do pan-germanismo.

3- Entre os teóricos do racismo alemão, dizia-se dos europeus de raça supostamente pura, descendentes dos árias.

4- Incontri, Dora. Para Entender Kardec, Grandes Questões, São Paulo: Publicações Lachâtre, 2001

5- Kardec, Allan. A Gênese, Rio de Janeiro: Editora FEB, 2002, pág. 31.

6- Idem págs. 415-416

7- Kardec, Allan. Revista Espírita de abril de 1862.

8- Primitivo era todo aquele povo que não havia chegado ao grau de cultura e tecnologia do europeu. Sem dúvida que era uma visão do europeu da época, que considerava os negros e os latinos selvagens.

9- Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, texto escrito por Allan Kardec, e Constitui o Capítulo V item 6º, Rio de Janeiro: Editora FEB, 2001

10- Soldado da força incumbida de velar pela segurança e ordem pública, na França.

11- Xavier, Francisco Cândido. Renúncia, 7 ª ed. Ditado pelo Espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 1973, pg 412.

12- Xavier, Francisco Cândido. Brasil, Coração do Mundo Pátria do Evangelho, Ditado pelo Espírito Humberto de Campos, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 1980.

13- Kardec, Allan. Revista Espírita de abril de 1861 297-298).

14- Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro: Editora FEB, 2003, parte 3ª, q. 798 e 799, cap. VIII item VI – Influência do Espiritismo no Progresso

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Dignidade na morte: reflexões sobre o suicídio assistido e o sofrimento humano

“Queridos amigos. Encontro-me na Suíça, prestes a praticar eutanásia. O que ocorre é que minha vida se tornou insuportável. Estou sofrendo de Alzheimer. […] Espero ter vivido com dignidade e espero morrer com dignidade”. Esse é um pequeno trecho da carta escrita pelo poeta e imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL) Antonio Cicero, 79 anos, que se submeteu a um procedimento de suicídio assistido em outubro de 2024 na Suíça, país em que isso é legalizado. Sua decisão acendeu mais uma vez o debate sobre eutanásia, suicídio assistido e dignidade da morte. Teria sido uma atitude de coragem, como sinalizaram alguns? Uma morte assim traz mesmo dignidade?

Sobre esse tema, conversamos com Luís Gustavo Mariotti (foto), médico geriatra com área de atuação em Medicina Paliativa, médico assistente do Serviço de Cuidados Paliativos do HC Unesp/Botucatu e do Núcleo de Suporte e Cuidados Paliativos do Hospital Beneficência Portuguesa, membro da Associação Médico-Espírita de Botucatu e coordenador do Departamento de Cuidados Paliativos da AME-Brasil.

Folha Espírita – Como você enxerga a decisão pelo suicídio assistido do Antonio Cicero, poeta imortal da ABL?

Luís Gustavo Mariotti – Primeiramente, penso ser muito importante deixar nossos profundos sentimentos e votos de paz aos familiares, amigos e fãs do poeta, filósofo e escritor Antonio Cicero. Imagino que não deva ter sido fácil essa tomada de decisão em todos os sentidos. Aqui não cabe o julgamento à pessoa, mas, sim, uma breve reflexão sobre o sofrimento humano. O suicídio assistido, que se caracteriza por auxiliar a pessoa nas informações ou nos meios necessários para cometer o suicídio, incluindo aconselhamento sobre doses letais de fármacos e prescrição ou fornecimento desses fármacos, é uma prática medicamente assistida que é legalizada em alguns países, como Suíça, Colômbia, Canadá e em alguns estados dos Estados Unidos. Já em países como Bélgica, Holanda e Luxemburgo, tanto a eutanásia quanto o suicídio assistido são legalizados. Do ponto de vista do sofrimento humano, entendo que as pessoas que pedem pelo abreviamento da vida física estejam pedindo, na verdade, pelo alívio do sofrimento multidimensional que as acomete. O ser humano carrega consigo o senso de autopreservação natural que direciona sua vida. O sofrimento pode ser intolerável quando não há o cuidado adequado desse sofrimento, incluindo o físico, o emocional e o existencial.

FE – Você poderia comentar esta frase do poeta: “O que ocorre é que minha vida se tornou insuportável. Estou sofrendo de Alzheimer. Assim, não me lembro sequer de algumas coisas que ocorreram não apenas no passado remoto, mas mesmo de coisas que ocorreram ontem. Exceto os amigos mais íntimos, como vocês, não mais reconheço muitas pessoas que encontro na rua e com as quais já convivi. Não consigo mais escrever bons poemas nem bons ensaios de filosofia. […] Espero ter vivido com dignidade e espero morrer com dignidade”.

Mariotti – O sofrimento psíquico e existencial (com a perda de sentido) me parece presente em sua fala. Para aqueles com comprometimento cognitivo, sobretudo nas fases mais leves do quadro demencial, a percepção das falhas de memória é algo bem significativo e que pode trazer angústia. Por outro lado, os recursos para amenizar essas perdas, como reabilitação cognitiva, readequação de rotinas, suporte social e apoio emocional e espiritual, são valiosos instrumentos para o enfrentamento dessa condição. Dignidade é um estado ou qualidade relacionada a sentir-se digno de honra e respeito ou autoestima. No contexto de adoecimento grave, a perda da dignidade está associada às preocupações com “situações inacabadas”, às mudanças na identidade e no funcionamento do seu papel social, à perda da independência, ao legado, ao propósito da vida, ao sentir-se espiritualmente desconectado ou, até mesmo, sentir-se sem apoio ou incompreendido pela família, amigos ou prestadores de saúde. Além disso, fatores como sintomas físicos descontrolados (dor, náusea, fraqueza, falta de ar), depressão, ansiedade e alterações cognitivas também resultam em perda do senso de dignidade.

Portanto, é preciso diferenciar bem o que é viver com dignidade e morrer com dignidade. Penso sobre algo que é fundamental nessas condições: a relação entre o profissional da saúde e o paciente. Ela pode ser uma importante fonte de consolo e segurança para os pacientes e suas famílias. É preciso sempre haver boa comunicação para fornecer suporte necessário e sensação de segurança, também contribuindo para o alívio do sofrimento.

FE – O escritor, poeta e crítico literário Silviano Santiago lamentou a morte de Cicero dizendo: “Cicero teve de enfrentar a morte de uma maneira quase socrática, como se, de antemão, condenado pela morte. Surge a coragem, que é muito importante na poesia dele. A coragem de um ato elegante diante da inexorabilidade da morte. Essa carta, esse diálogo dele com a morte, vai inspirar reflexões muito profundas, sobretudo entre aqueles que se aproximam desse momento”. Como você avalia esse depoimento?

Mariotti – Sócrates foi denunciado como subversivo, por não acreditar nos deuses da cidade, e foi acusado por corromper a mocidade. A condenação foi a morte. Convidava os jovens a refletir, meditar por si mesmos e, por isso, era temido pelos políticos da época. Ele foi precursor de alguns princípios cristãos que seriam mais tarde trazidos e esclarecidos por Jesus, como a imortalidade da alma e a existência da vida futura. A morte de Sócrates não se assemelha de forma alguma com o pedido de morte abreviada pelo escritor. Conviver ou ser portador da Doença de Alzheimer não é sentença de morte, como alguns querem sinalizar para a sociedade. Se assim fosse, ser portador de diabetes, sobretudo nos casos insulinodependentes, doença renal crônica, lúpus, doença cardíaca e câncer também remeteriam a condições intoleráveis. E isso não é verdade. Coragem e elegância são características que talvez muitos de nós não tenhamos diante do sofrimento, sobretudo quando este não é acolhido, suportado, quando estamos sozinhos, sem apoio, desesperados ou desesperançosos. Há uma frase de Viktor Frankl, eminente psiquiatra que viveu nos campos de concentração durante a Segunda Guerra Mundial, que nos faz refletir mais profundamente sobre sofrimento e coragem: “O sofrimento não é caminho indispensável para encontrar o sentido na vida. O sofrimento inevitável, abraçado com coragem, é heroísmo”. Assim, pergunto aos leitores: o que o materialismo nos convida: à vida sem sentido ou à vida com verdadeiro heroísmo? Por que viver também está associado a algum grau de sofrimento.

FE – O jornal O Globo descreveu que Antonio Cicero menciona a palavra “eutanásia” em sua carta e informa: “A origem da palavra vem do grego e significa ‘boa morte’. Ela consiste na aplicação de uma dose letal de algum remédio por um médico que esteja acompanhando o tratamento de um paciente em estado terminal, sem perspectiva de melhora. O que é permitido na Suíça, e também em outros países, na verdade, é o suicídio assistido, quando o próprio paciente toma o remédio letal. É usado na maioria das vezes também por pacientes em estado terminal, que sofrem de doenças incuráveis”. Ou seja, ele tomou um remédio letal. Como funciona isso?

Mariotti – Definição de boa morte pode ser utilizada de diversas formas. Segundo a enfermeira e paliativista portuguesa Patrícia Coelho, “a boa morte precisa ser tratada de forma individual, se está sem dor ou sintomas, se está em um ambiente familiar na companhia de amigos e familiares. É missão dos profissionais de saúde não apenas lutar contra a doença, mas também aliviar o sofrimento até o fim da vida”.

Geralmente, os pacientes oncológicos são os principais solicitantes da eutanásia ou do suicídio assistido, embora tenha havido um aumento dos pedidos por pacientes com doenças neurodegenerativas. Dentre os principais motivos, destacam-se a perda de autonomia, os encargos financeiros, a incapacidade de se envolver em atividades prazerosas, a perda de dignidade, a perda de controle das funções corporais e as preocupações sobre ser um fardo para os outros, além da presença de sintomas não controlados.

Segundo a visão médico-espírita, a boa morte significa a desintegração do corpo físico no tempo natural, em que paciente e familiares são bem cuidados, a obstinação terapêutica é evitada, tendo a compreensão de que o fenômeno da morte é acompanhado da desencarnação, em que o Espírito abandona o corpo físico naturalmente e retorna à sua verdadeira Pátria – o mundo espiritual. E podemos ir mais além: a boa morte deveria ser a compreendida como a jornada temporária do Espírito Imortal que se encerra na matéria após o esforço individual na conquista do seu aperfeiçoamento moral, deixando um legado de amor ao semelhante e respeitando a vontade e as leis divinas.

FE – Também gostaria que comentasse esta frase dele: “Pois bem, como sou ateu desde a adolescência, tenho consciência de que quem decide se minha vida vale a pena ou não sou eu mesmo”.

Mariotti – É preciso compreender que há discrepâncias entre o que pensamos que seja correto e aquilo estabelecido perante as leis divinas. Há religiosos que são mais palavrosos e menos cumpridores das lições de Cristo que os ateus. Todos merecem nosso respeito e compreensão. No entanto, como nos diz irmão Jacob, no livro Voltei, pela psicografia de Chico Xavier: “Se o homem soubesse a extensão da vida que o espera além da morte do corpo, certamente outras formas de conduta escolheria na Terra!” Para que haja verdadeira compreensão da vida, é preciso humildade e esforço individual no educandário da existência humana. A decisão do tempo de nossa permanência no plano físico não está condicionada plenamente à nossa vontade.

FE – Como uma notícia como essa impacta os pacientes, principalmente da geriatria? Hoje em dia, as pessoas idosas estão conectadas nas redes sociais. Que recado você deixa para as pessoas que estão vivendo a mesma situação?

Mariotti – Frustra-me muito a ideia de que uma vida inteira com suas realizações e potencialidades se encerre de forma tão trágica, em que há o predomínio da visão materialista e hedonista sobre a vida e a crença equivocada de que o sofrimento termina com a morte do corpo físico. Quantas histórias bem vividas, quantos laços e ressignificados, quantas experiências de amor, de cuidados, de renúncia e humildade ocorrem por diversas vezes onde o adoecimento cognitivo se faz presente.

Quando nos abstemos de viver com sentido, perdemos a nossa própria humanidade. Ouvi uma frase outro dia e aproveito para compartilhar: “tristezas inexplicáveis estão à espera de todos nós”. O sentido da vida, segundo Albert Camus, é questão existencial mais urgente de nossa humanidade e se associa ao como aceitamos o destino. Se temos um vazio existencial, é preciso dar a oportunidade de preencher a alma. Desenvolver afetividade, relações saudáveis e de suporte, esperança, empatia, solidariedade e oferecer atendimento multidimensional ao paciente, aos seus familiares e cuidadores para o melhor enfrentamento da condição de adoecimento são recursos possíveis de serem instituídos por toda a sociedade.

Fonte:  Jornal– Folha Espírita

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Fumo e Perispírito

 

 

Em 1964 escrevi um livro intitulado “Deixe de Fumar Pelo Método de Cinco Dias” que contou com seis edições seguidas. Na época eu nada sabia sobre Allan Kardec. Via a questão “fumo-saúde” sob um ângulo parcial de higidez orgânica, dos danos físicos reversíveis ou não trazidos pelo cigarro, da dependência do fumante em relação à nicotina e outros componentes do fumo. Decorridos dez anos, circunstâncias pessoais de dor e reflexão me levaram ao estudo da Doutrina codificada por Kardec sob a orientação do Mundo Espiritual Superior. Uma nova visão acerca da vida, do destino e da morte do ser humano aos poucos haveria de despertar-me para as inarredáveis realidades da alma em suas recorrentes trajetórias terrenas. O conhecimento das leis de causa e efeito, sobretudo no que concerne ao princípio intermediário entre a matéria e o espírito, elo de união conhecido pelo nome de perispírito, levar-me-ia a refletir mais adiante nos danos visíveis e invisíveis que certos hábitos adquiridos, quase sempre inconscientemente, nos causam.

 

Desde o “Livro dos Espíritos”, a literatura doutrinária vem mostrando abundantemente a estreita vinculação desse tripé homogêneo representado pelo “corpo-perispírito-espírito”. Observei, outrossim, serem relativamente escassas as informações disponíveis em torno da influência do cigarro no perispírito, por se tratar de um hábito relativamente novo na existência humana.

 

Ao tempo em que Kardec viveu, o tabagismo era elitista, quase não se difundira em termos das populações.

 

O tema ficou incluído no capítulo “Das Paixões”, dessa obra básica, conforme questões de nº. 907 a 912. Dali extraímos as seguintes proposições respondidas pelos espíritos:

 

“Visto que o princípio das paixões está na Natureza, ela é ma em si mesmo?”

 

Não, a paixão está no excesso acrescentado à vontade, porque o princípio foi concedido ao homem para o bem e as paixões podem levá-lo as grandes coisas, sendo o abuso que delas se faça que causa o mal.

 

O homem poderia sempre vencer suas más tendências por seus esforços?

 

Sim, e, algumas vezes sucumbe, por seus fracos esforços. É a vontade que lhe falta.

 

Não há paixões tão vivas e irresistíveis que a vontade não tem poder para superá-las?

 

Há muitas pessoas que dizem: ‘eu quero’, mas a vontade não está senão nos lábios; elas querem, mas estão contentes que assim não seja. Quando se crê não poder vencer suas paixões, é que o Espírito nelas se compraz em conseqüência de sua inferioridade. Aquele que procura reprimi-las, compreende sua natureza espiritual, e as vitórias são para ele um triunfo do Espírito sobre a matéria.

 

Qual é o meio mais eficaz de combater a predominância da natureza corporal?

 

Praticar a abnegação de si mesmo.”

 

Perispírito: efeitos

 

O perispírito é o agente intermediário das sensações externas. Tudo que façamos, nele fica gravado indelevelmente, como se fora num filme intocado, Após a morte do corpo físico, as sensações se generalizam ou seja, as dores não ficam localizadas. Num paciente que tenha desencarnado, por exemplo, de câncer pulmonar proveniente do uso prolongado e constante do cigarro, o espírito não fica propriamente sofrendo de um mal localizado, mas de um mal correspondente que lhe abrange toda a constituição espiritual.

 

Opinião de Chico Xavier

 

A ação negativa do cigarro sobre o perispírito do fumante prossegue após a morte do corpo físico? Até quando?

 

“O problema da dependência continua até que a impregnação dos agentes tóxicos nos tecidos sutis do corpo espiritual cedam lugar à normalidade do envoltório perispirítico, o que, na maioria das vezes, tem a duração do tempo correspondente ao tempo em que o hábito perdurou na existência física do fumante.

 

Quando a vontade do interessado não está suficiente para arredar de si o costume inconveniente, o tratamento dele, no Mundo Espiritual, ainda exige quotas diárias de sucedâneos (semelhantes) dos cigarros comuns, com ingredientes análogos aos dos cigarros terrestres, cuja administração ao paciente diminui gradativamente, até que ele consiga viver sem qualquer dependência do fumo.”

 

“As sensações do fumante inveterado, no Mais Além, são naturalmente as da angustiosa sede de recursos tóxicos a que se habituou no Plano Físico, de tal modo obsedante que as melhores lições e surpresas da Vida Maior lhe passam quase que despercebidas, até que se lhe normalizem as percepções.

 

O fumo no corpo

 

O assunto, no entanto, no capítulo da saúde corpórea, deveria ser estudado na Terra mais atenciosamente, de vez que a resistência orgânica decresce consideravelmente com o hábito de fumar, favorecendo a instalação de moléstias que poderiam ser claramente evitáveis. A necropsia do corpo cadaverizado de um fumante em confronto com o de uma pessoa sem esse hábito estabelece clara diferença.”

 

Opinião de Wilson Francisco

 

Allan Kardec diz, no Livro dos Espíritos, que o Espirito vem a Terra para intelectualizar a materia, ou seja, ele habita o corpo e deve exercitar o desenvolvimento de suas qualidades divinas atraves dos olhos (inocentar o olhar), da palavra (falar a voz de Deus), das maos (tocar com singeleza, indicar caminhos).

 

Entao, quando o Fernando Worm diz que a abnegacao o recurso mais expressivo no combate as paixoes eh porque, abnegar-se significa realizar um desejo incansavel de controlar emocoes, aliada a uma vontade intensa de fazer prevalecer a sua inteligencia e a amorosidade por si mesmo.

 

Jesus diz: Ame o proximo como vc se ama a si mesmo. Estas atitudes permitem a vc poder fazer com que vc realize o que estah sugerido no Evangelho Segundo o Espiritismo, a reforma intima, ou seja, formar-se de novo. E a partir dessa plenitude consciencial, faca esforcos para domar suas mas inclinacoes.

 

Quanto ao que acontece no corpo de um fumante, as experiencias que realizei com Rubens Meira, mostram esse efeito num corpo ainda vivo. Ele fora fumante por varios anos e ha cinco nao fumava mais. Ficou deitado, numa maca, soh com lencol sobre o corpo. Quinze minutos depois, observamos o lencol todo amarelado pela simples transpiracao.

 

Fumo e mediunidade

 

Você considera o hábito de fumar um suicídio em câmara lenta? Por quê?

 

Creio que o hábito de fumar não pode ser definido por suicídio conscientemente considerado. Será um prejuízo que o fumante causa a si mesmo, sem a intenção de se destruir, mas o prejuízo que se deve estudar com esclarecimento, sem condenação, para que a pessoa se conscientize quanto às conseqüências do fumo, no campo da vida, de maneira a fazer as suas próprias opções.

 

Você teria alcançado condições de desempenho de seu mandato mediúnico, ao longo de mais de meio século de trabalho incessante, se fosse um dependente da nicotina?

 

Creio que não, com referência ao tempo de trabalho, de vez que a ingestão de nicotina agravaria as doenças de que sou portador, mas não quanto a supostas qualidades espirituais para o mandato referido, de vez que considero “o hábito de cultivar pensamentos infelizes” uma condição pior que o abuso da nicotina e, sinceramente, do “hábito de cultivar pensamentos infelizes” ainda não me livrei.

 

“Permito-me aqui, um apontamento. O Chico aqui contraria a opiniao de dirigentes espiritas que impedem fumantes em atividades espirituais. Eu sugiro pelo menos uma hora antes, o medium ou passista evite fumar, mas proibicao entendo como exagero. Ha outros tantos vicios muito mais perniciosos aos processo energeticos”.

 

Que é que você habitualmente aconselha aos fumantes enfraquecidos por derrotas sucessivas, que vêm pedir orientação, forças renovadas e motivação para vencer a dependência física e mental criada pela nicotina?

 

A prece e o trabalho, em meu entendimento, são sempre os melhores recursos para defender-nos contra qualquer desequilíbrio.

 

(Chico Xavier) Fonte: livro –”Janela para a Vida” –Psicografia Francisco Cândido Xavier –Fernando Worm.

 

Por Wilson Francisco

Fonte: Portal do Espírito

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Revelar o Mal – sim, devemos!

Deus me proteja da maldade das pessoas boas (composição de Chico Cezar)

Muito tem-se criticado a imprensa – a mídia, como nos referimos hoje -, isto é, o conjunto dos meios de comunicação social de massas, abrangendo o rádio, o cinema, a televisão, a imprensa, os meios eletrônicos de comunicação etc.

Em geral, o trabalho da imprensa possui excelente qualidade. Nossos jornais e profissionais do meio são reconhecidos e premiados mundo afora. Temos jornais ruins, mas isso existe no mundo todo, não só aqui. É só saber escolher.

Mas parece que as pessoas não têm tido paciência para ler jornais, preferindo se desinformar pelo whatsapp e Facebook a ter notícias de qualidade. Pode ser, também, que estão sendo induzidas a não se informar, o que é pior ainda, pois nessa hipótese tratar-se-ia de astuta manipulação.

É preciso deixar claro que as redes sociais não devem ser usadas como fonte de informação segura (whatsapp, facebook,  X, youtube etc.). Por meio delas se propagam notícias falsas à velocidade da luzEstima-se que uma fake News seja 10 vezes mais compartilhada e vista pelos usuários desses aplicativos que uma notícia verdadeira.

Sem informação de qualidade permanecemos na ignorância. Deseja ser protegido das fake News? – Leia mais jornais.

Sim, viva a imprensa livre e de qualidade!

Como se não fosse pouca coisa, observamos que a ciência também está sofrendo todo tipo de ataque por meio, justamente, dessas redes sociais – lugar onde todos têm lugar, qualquer um pode acessar, falar e escrever o que quiser e enganar.

“A ciência vive uma crise de confiança. Em sociedades polarizadas, nas quais notícias falsas e teorias da conspiração se propagam com rapidez pelas redes sociais, o conhecimento científico tornou-se alvo frequente de ataques que reverberam em grupos com crenças ou interesses políticos ou econômicos contrariados – ou simplesmente com baixo letramento”. (1)

Você que está lendo essas linhas deve procurar entender o porquê disso. Pesquise e estude.

Kardec, reconhecido cientista que foi, assevera-nos que a Ciência Humana e a Religião são as duas alavancas da inteligência humana. (2)

O Universo (não só a Terra) é governado por leis perfeitas, responsáveis pelo seu equilíbrio e harmonia, que deverão, a seu tempo, ser reveladas ao homem. Cabe às Ciências humana e espiritual esse papel.

Sim, viva a Ciência!

Desprezar as conquistas da civilização é retroceder no tempo, é retornar a séculos passados, onde a desordem e a injustiça andavam de mãos dadas. Refiro-me às conquistas humanas e culturais e não ao retrocesso espiritual.

Não retrocedemos espiritualmente, mas podemos permitir que nossa sombra interior prevaleça sobre a luz. E quando o pior que existe em nós é alimentado e passa a ter o domínio de nossas ações a tragédia está anunciada.

É com tristeza e angústia que tomamos conhecimento de dirigente espírita defendendo armamento da população para conter a violência ou apoiando a pena de morte para criminosos com o objetivo de sanear a sociedade. Provavelmente se intitulam pessoas do “bem”.

Como o compositor Chico Cezar, digo: “Deus me proteja da maldade das pessoas boas”.

É assustador ver médiuns renomados, verdadeiras celebridades nacionais, sempre ansiosos com a próxima entrevista para aparecer, em nome da Doutrina Espírita, ver esses médiuns, repito, em vídeos postados no YouTube, transmitindo informações falsas, sem nenhuma base doutrinária, eis que destituídas de razão e bom-senso, além de serem contrárias às descobertas da Ciência. Kardec jogaria tudo isso no lixo.

Só para dar um exemplo, ainda que tardia, a respeito da COVID 19, tal como a que diz que o vírus irá infectar somente aqueles que estiverem com baixa vibração espiritual porque assim estarão em comunhão vibracional com o vírus; que o agente infeccioso foi criado em laboratório de país ateu (?) objetivando uma futura guerra químico-biológica; que somente serão atingidas as pessoas más e de má conduta. Para completar, estimularam o uso de cloroquina, medicamento utilizado para malária, causada por um protozoário e não por vírus. Ah, alguns médiuns defendem também o uso de  Ivermectina, medicamento utilizado para combater vermes.

A continuar nesse nível, não duvido que comecem a defender que a terra é plana. Não duvidem, eis que se encontram a caminho da fascinação, grau mais danoso de obsessão.

O pior de tudo: esses médiuns midiáticos são responsáveis por trazerem para dentro da casa espírita a política partidária, atitude fragrantemente contrária aos ensinamentos de Cristo  no “dai a Cesar o que é de Cesar e a Deus o que é de Deus”. Lembrando que Cezar era um cargo político.

Essa atitude irresponsável de médiuns e oradores complicou ainda mais o triste estado em que se encontra o movimento espírita, causando separações, divisões e abandono das casas espíritas por parte de muitos frequentadores.

Como se não bastasse o estrago provocado,  ainda tecem duras críticas ao judiciário, atacam a mídia e difamam grandes vultos da ciência.

Esse é um desserviço à Doutrina Espírita. E são médiuns renomados…

Com exceção da USE do Estado de São Paulo (ver comunicado aqui no site www.kardecriopreto.com.br), ainda não vimos a Federação Espírita Brasileira (FEB) alertando-nos acerca desses conteúdos e deixando claro, muito claro, que esses depoimentos não representam a Doutrina de Kardec, reduzindo-se a opiniões pessoais desses cidadãos – o que também é desolador.

A propósito do tema desse artigo transcrevemos mensagem do Espírito São Luís, inserta no Capítulo 10 – Bem-Aventurados Os Que São Misericordiosos, de O Evangelho Segundo o Espiritismo.

São Luís – Paris, 1860

Haverá casos em que pode ser útil revelar o mal dos outros?

Esta questão é muito delicada, é aí que é preciso fazer surgir a caridade bem entendida. Se as imperfeições de uma pessoa prejudicam apenas a ela mesma, não há nenhuma utilidade em revelá-las.

Porém, se elas podem prejudicar aos outros, é preferível o interesse da maioria do que o interesse de um só. Conforme as condições, desmascarar a hipocrisia e a falsidade pode ser um dever, pois é preferível um homem cair do que vários serem enganados ou serem suas vítimas. Em semelhante caso, é preciso pesar a soma das vantagens e das desvantagens.

Pensemos nisso!

Fernando Rossit

(1) https://revistapesquisa.fapesp.br/resistencia-a-ciencia/

(2) Cap. I., Não Vim destruir a Lei, O Evangelho Segundo Espiritismo.

Fonte: Associação Espírita Allan Kardec

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