Espiritismo não pode ter ídolos

Hugo Lapa

(Chico Xavier e Divaldo P. Franco)

ESPIRITISMO NÃO PODE TER ÍDOLOS

 

De vez em quando surgem questionamentos nos grupos espiritualistas sobre tal ou tal médium, sobre esse ou aquele “grande” palestrante espírita. Quando alguém faz uma crítica a um palestrante ou médium, algumas pessoas ficam melindradas e já reagem com ataques e críticas. Essas pessoas defendem um palestrante ou um médium com unhas e dentes, às vezes de forma incondicional e não permitem que seu ídolo seja objeto de uma análise crítica, seja de sua obra, seja de suas ideias, seja de sua postura etc. Eu me pergunto se não acabamos criando certos “ídolos” no Espiritismo, pessoas que não podem ser criticadas, que não podem ser objeto de debate, que estão acima de qualquer suspeita, que não podem ter sua obra e suas qualificações analisadas e questionadas com nosso direito à liberdade de expressão.

 

Precisamos tomar muito cuidado com esse personalismo no espiritismo. Não pode existir uma pessoa intocável, que não pode ser criticada. Ninguém pode jamais estar acima do bem e do mal. Obviamente precisamos tomar todo o cuidado para não julgar, para não sermos levianos e rotularmos uma pessoa. Todo rótulo é um limite, todo julgamento é uma distorção da realidade. Por outro lado, não podemos alimentar em hipótese alguma a existência de ídolos, alguém do qual ninguém pode tecer comentários, e caso o faça, surgem dezenas de fãs desse “ídolo” para atacar quem teceu comentários sobre uma pessoa e sua obra.

 

Em O Livro dos Espíritos é abordado várias vezes a respeito do valor da abnegação como ferramenta imprescindível de evolução. Jesus falou muito sobre a importância da renúncia de si mesmo e da humildade: “Os humildes serão exaltados”. O próprio Chico Xavier disse que ele não passava de um pezinho de grama… um cisco… e que as pessoas sempre o elevavam a um patamar que ele mesmo não julgava merecer. Chico foi muito humilde, foi atacado durante toda a sua vida e nunca reclamou disso… jamais pediu aos seus seguidores que o defendessem desses ataques. Ele nunca pediu, por exemplo, que os espíritas fossem a sede da revista “O Cruzeiro” para ataca-la pelas reportagens críticas que foram publicadas contra ele. Não… Chico sempre aceitou todas as críticas e nunca estimulou o personalismo no Espiritismo. Ele sempre deixou claro que nosso mestre é Jesus e é ele quem devemos louvar e seguir. No fundo, as pessoas querem um guru, alguém para seguir, alguém que lhes dê segurança… querem alguém para se apoiar. No entanto, para a decepção dessas pessoas, não existem gurus no Espiritismo.

 

Podemos sim falar da obra de qualquer palestrante ou escritor espírita de modo crítico, com análises minuciosas de suas ideias. Não há nenhum problema nisso. É saudável e positivo que haja debates e troca de ideias, de forma crítica, sobre a obra dos expoentes do Espiritismo. Espiritismo não tem ídolos, mas tem servidores… tem obreiros que jamais devem colocar sua própria persona em destaque, ou acima de outras, como sendo a “mais conhecedora”, a “mais capaz”, a “mais caridosa”. Vaidade e Espiritismo são duas coisas opostas… O palestrante vaidoso, que se jacta de suas grandes performances como expositor ou como médium, está em desalinho com a proposta de humildade que o Espiritismo ensinou desde a sua origem.

 

Ninguém pode ser acima de qualquer suspeita… ninguém está acima do bem e do mal. Por outro lado, vamos lembrar que julgar positivamente também é julgar. Sim… tanto julgar negativamente quanto positivamente são julgamentos da mesma forma. Se você diz que uma pessoa é picareta, você a está julgando… e se você diz que uma pessoa é honesta, íntegra, maravilhosa e iluminada, você também a está julgando, está julgando positivamente. Tanto o julgamento negativo quanto o julgamento positivo devem ser evitados. Jesus disse “Não julgueis”. Ele não disse não julgueis negativamente… ele disse apenas “não julgueis”, isso implica em não julgar nem negativamente e nem positivamente.

 

Por isso reafirmamos e isso é muito importante… não existe e nem pode existir ninguém que é inquestionável no espiritismo. Inquestionabilidade existe apenas nas religiões ortodoxas, nas religiões que são conhecidas por seu dogmatismo ou fundamentalismo… não existe o dogma da infalibilidade de nenhum autor ou médium espírita. Ninguém deve ser endeusado jamais. Ninguém deve ser colocado na posição do arauto da fé, do “mestre do Espiritismo”, do maior divulgador e do maior médium. Todos podem e devem ser questionados. O Espiritismo não combina com criação de ídolos intocáveis.

 

Estamos falando do Espiritismo, mas isso também serve para o Espiritualismo e para qualquer outra forma de conhecimento e prática. Eu também não estou, em hipótese alguma, acima de críticas, ao contrário… faço questão de todos os dias, postar nas redes sociais a minha obra para ser analisada e criticada por todos. Sempre procuro perguntar se as pessoas concordam ou não com as mensagens expostas. As críticas nos ajudam a fazer revisões dos nossos escritos, de nossas ideias e aperfeiçoá-las, posto que nada está pronto, nada está fechado, nada jamais está completo… tudo está em constante progresso. Não existe nenhum espírito evoluído aqui entre nós… existem apenas espíritos em evolução. Todos nós estamos no mesmo barco, sofrendo com os mesmos espinhos.

 

Estamos todos praticamente no mesmo grau de elevação, e por isso mesmo, ninguém deve ser considerado infalível, intocável, inquestionável, indispensável, insubstituível etc.

 

Hugo Lapa

portaldoespiritualismo@gmail.com

Fonte: G.E.Casa do Caminho de S.Vicente

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Prazeres da Carne x Aprimoramento Espiritual

Cecília Alves

PRAZERES DA CARNE x APRIMORAMENTO ESPIRITUAL

A Bíblia nos ensina em Gálatas, capítulo 5, versículo 16: “Digo, pois: deixai-vos conduzir pelo Espírito, e não satisfareis os apetites da carne”.

 

No excerto acima nos recomendado que procuremos satisfazer as inclinações do espírito em detrimento aos prazeres ou satisfações da matéria, ali colocado sob a figura alegórica “carne”, em outras palavras poderíamos afirmar que está sendo recomendado ao homem que busque a evolução espiritual, parece contraditório “esquecer” a existência do que nos é material, visto que estamos encarnados, mas será que era exatamente isso que o texto bíblico nos ensinava?

 

Observemos o que O Codificador nos traz através de O Livro dos Espíritos questão 93:

 

O Espírito, propriamente dito, nenhuma cobertura tem ou, como pretendem alguns, está sempre envolto numa substância qualquer? “Envolve-o uma substância, vaporosa para os teus olhos, mas ainda bastante grosseira para nós; assaz vaporosa, entretanto, para poder elevar-se na atmosfera e transportar-se aonde queira.” Envolvendo o germe de um fruto, há o perisperma; do mesmo modo, uma substância que, por comparação, se pode chamar perispírito, serve de envoltório ao Espírito propriamente dito.

 

Compreende-se do exposto que o espírito possui um envoltório relativamente grosseiro, ao qual denominamos de perispírito, este se faz um elo entre o nosso espírito (natureza espiritual) e corpo físico (natureza material), se fazendo indispensável na condição atual do homem para sua atuação.

 

Observamos ainda que apesar de sua identidade espiritual, visto que é sua essência, o homem possui ainda uma outra natureza quando encarnado, esta a natureza física ou material e dela sofre influências, como não poderia deixar de ser, visto que encarnado.

 

Deste modo somos seres espirituais vivenciando uma experiência material (carnal) para melhor cumprirmos as nossas atividades e experiências evolutivas.

 

A respeito das experiências evolutivas do homem e do seu aperfeiçoamento vejamos o que nos traz A Gênese em seu capítulo XVIII:

 

Fisicamente, o globo terráqueo há experimentado transformações que a Ciência tem comprovado e que o tornaram sucessivamente habitável por seres cada vez mais aperfeiçoados. Moralmente, a humanidade progride pelo desenvolvimento da inteligência, do senso moral e do abrandamento dos costumes. Ao mesmo tempo que o melhoramento do globo se opera sob a ação das forças materiais, os homens para isso concorrem pelos esforços de sua inteligência.

 

Do exposto observamos que a humanidade progride moral e intelectualmente e quanto maior o seu progresso, progride também o orbe no qual ela habita. Chamamos atenção ainda ao que o excerto acima chama de abrandamento dos costumes, em nosso entendimento o referido abrandamento concerne as atitudes humanas e aos costumes sociais que aos poucos se tornarão mais evoluídos e espiritualizados.

 

A criatura humana é destinada a evolução, posto que como nos ensina O Livro dos Espíritos, esta é uma Lei Natural. Deste modo, podemos compreender que o homem sob a influência material, ainda que seja um ser espiritual, está sujeito aos desejos e apelos materiais, e quanto mais evoluído menos deles terá necessidades, visto que em processo de depuração moral.

 

Deste modo, compreendemos que ao homem não é obstado usufruir da matéria e dos gozos que lhe poderá proporcionar, até por que precisamos dela para nos manter enquanto encarnados, afinal todos vestimos, nos alimentamos e mantemos nossa vida de encarnados através de atividades materiais, pois é nesse plano que vivemos e são as necessidades que dele urgem. Entretanto, os excessos de toda ordem apesar de permitidos ante o nosso livre arbítrio, não nos são lícitos, posto que são a negação da nossa essência espiritual. Assim, se somos criaturas voltadas unicamente aos prazeres e satisfações da matéria estamos a negar a nossa essência espiritual.

 

Assim não é proibido ao homem, por exemplo, usufruir de atividades como festas, aniversários ou carnaval, por exemplo, os equívocos se encontram no excesso, bem como nas intenções das quais o homem pode estar nutrido e o carnaval é um exemplo disto, conhecido popular e mundialmente como uma festa da carne, ou seja, para satisfação dos sentidos.

 

O quanto ainda precisamos dele? Ou o quanto os seus moldes ainda nos satisfazem? É uma indagação que deixamos a ser respondida por cada leitor a si mesmo.

 

Lembramos que o espiritismo de nada nos tolhe, mas nos convida a reflexão e ao exercício do livre arbítrio.

Cecília Alves

Fonte: Letra Espírita

Referências bibliográficas:

Bíblia Online: https://www.bibliaonline.com.br/acf

Kardec, Allan: A Gênese, 53º ed.– 8. imp. – Brasília: FEB, 2019

Kardec, Allan: O Livro dos Espíritos, 24º reimp. Fev 2019 – Capivari, SP, Editora EME

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O ENIGMA DO PRIMEIRO GOLE

Ônibus do MP estacionado em frente à casa noturna Pepsi On Stage

A equipe formada por diversas instituições que trabalharam na operação organizada pelo Ministério Público na festa de formatura do Ensino Médio do Colégio Rosário, ocorrida na noite desta quinta-feira, 17, realizou 41 atendimentos a adolescentes embriagados ou portando bebidas alcoólicas. Três deles tiveram que ser encaminhados pela equipe médica ao Hospital de Pronto Socorro pelo alto nível de embriaguez. A festa, que reuniu cerca de 2.300 adolescentes, aconteceu no Pepsi On Stage, na zona norte de Porto Alegre.

A escola é a grande parceira da família na tarefa educativa, em que pese respeitar a cidadania e sem ditar regras rígidas no lares alheios.

No Distrito Federal , uma escola tomou uma medida que tem sido alvo de polêmica, dividiu a opinião de pais e irritou alunos ao entregar um documento que sugere aos pais e responsáveis que proíbam os menores de 21 anos (isso mesmo! 21 anos) de ingerirem bebidas alcoólicas nas “inofensivas” festas e eventos sociais promovidos pelos adolescentes em suas próprias residências.

Para muitos talvez seja seja uma iniciativa um pouco exagerada, visto que falar atualmente em proibir é radicalmente proibido por essa juventude moderninha.

Sem adentrar, ainda que sutilmente, no mérito da discussão, cremos que a questão merece ser analisada, até porque as estatísticas apontam preocupantes números , demonstrando que os jovens estão bebendo cada vez mais e mais cedo, hoje na faixa etária dos 13 anos.

É bem verdade que a direção da escola deve estar restrita aos problemas intra-escolares, e que não basta apenas advertir aos pais os filhos estão bebendo. Até porque acabam empurrando o problema de volta para a família.

As escolas são importantes foros para duscussões de assuntos gerais e das mais excelentes localidades para que se debata à exaustão o problema da nefanda droga legalizada.Os que debruçaram na pesquisa sobre o drama do alcoolismo entre os estudantes do Distrito Federal, informam que oito em cada dez estudantes já usaram álcool.

Atentemos para o trecho a seguir publicado na revista “Isto É” de 17/11/99, que retrata bem uma situação-limite sobre o consumo de alcoólicos em Brasília. “Uma overdose de festas voltadas para jovens de classe média garante o alto consumo de bebidas. No feriado de Finados, o panfleto de uma festa levou quatro amigos [três deles menores de idade] a uma boate no Lago Sul, área nobre de Brasília. A R$.20,00 por pessoa, conseguiram passaporte para o paraíso adolescente: mulher bonita, som tecno e bebida de graça. Três deles deixaram a boate em mau estado. O quarto precisou sair carregado. Desfalecido, foi colocado pelo amigos no banco de trás do carro e levado às pressas para o hospital. No caminho, cruzaram com outros jovens desmaiados na calçada à espera de que, ao chegar, o pai os identificasse.”

Lamentavelmente, no Brasil se consome cerca de mais de dois bilhões de litros de pinga e mais de cinco bilhões de litros de cerveja por ano. Segundo o Dr. Josimar França, membro da Faculdade da Ciência e Saúde da Universidade de Brasília, no Distrito Federal há centenas de milhares de alcoolistas e boa porcentagem desse universo é constituído de jovens menores de 15 anos de idade. Josimar atesta que o alcoolismo é o mais importante problema de saúde pública no Brasil.Infelizmente a sociedade convive aparentemente bem com a sutileza da invasão do álcool, monstro que tem invadido e destroçado família e destruído vários lares.

Especialmente através das propagandas apelativas, hipnotizantes , que custam bilhões de dólares, intoxica-se a estrutura mental do adolescente incauto. Dessa forma, o jovem age sem padrões definidos de comportamento racional, projeta-se numa perspectiva cada vez mais próxima da derrocada em busca do entorpecimento da consciência e da razão, justificado pelo prazer alucinado no mundo das bebidas , situação em que promove mergulho no nada para as fugas espetaculares da realidade. À maneira de um incêndio que começa de uma fagulha e causa grande destruição, para muitos adolescentes de um simples gole “inofensivo” o mesmo vêm precipitar-se nos escombros da miséria moral, transformando-se em uma pessoa vazia de ideais.

Pais cristãos e absolutamente cônscios não podem oferecer bebidas alcoólicas para seus filhos sob quaisquer pretextos, ao contrário disso, devem envidar todos os esforços para os afastá-los das festas regadas à álcool , essa sim é atitude sensata!!! Não devem olvidar que a desgraça real pode ter início no primeiro gole da bebida (às vezes oferecida num momento de discontração no lar).

Creio que há suficientemente razão para que não guardemos em casa as belas e luxuosas garrafas de bebidas alcoólicas , pois aí estão acondicionados o veneno mortal, normalmente mantido em nas instalações de um “charmoso” barzinho. Aí nesse local pode ser o ponto inicial de uma história repleta de inimagináveis tragédias pessoais sobretudo para aqueles que nos são tão caros ao coração, os nossos filhos.

Jorge Hessen

Fonte: ESPIRITISMO NA REDE

e https://www.mprs.mp.br/noticias/40576/

 

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O papel da Evangelização Espírita na formação do ser

Janaína Magalhães

“Deixem vir a mim as crianças e não as impeçam; pois o Reino dos céus pertence aos que são semelhantes a elas” – Jesus (Mateus 19:14).

Do ponto de vista espírita, a educação não começa no berço nem termina no túmulo, mas antecede o nascimento e sucede à morte do corpo físico. Sabemos que o Espírito é milenar e traz para a atual encarnação sua bagagem de experiências de vidas passadas, com suas tendências morais tanto positivas quanto negativas, podendo ser essas trabalhadas durante o processo educacional, seja no lar pelos pais ou na escola pelos educadores. E cabe aos pais o dever de passar os princípios e valores aos seus filhos, amparando-os e conduzindo-os nas diretrizes cristãs. Por ser Jesus nosso guia e modelo, seu Evangelho constitui rota segura a ser seguida para a formação de hábitos voltados ao bem e à implantação da paz.

Segundo Emmanuel no livro O Consolador, questão 109, até os sete anos de idade, o Espírito reencarnado se encontra em fase de adaptação à nova vida, e, por não existir uma integração perfeita entre ele e a matéria orgânica, é uma individualidade extremamente suscetível de receber as influências exteriores, a fim de consolidar os princípios renovadores para trilhar um caminho novo na vida. (Silveira, 2017, on-line)

De acordo com a questão 385 de O Livro dos Espíritos: “Que é o que motiva a mudança que se opera no caráter do indivíduo em certa idade, especialmente ao sair da adolescência? É que o Espírito se modifica?

“É que o Espírito retoma a natureza que lhe é própria e se mostra qual era. Não conheceis o que a inocência das crianças oculta. Não sabeis o que elas são, nem o que foram, nem o que serão. Contudo, afeição lhes tendes, as acaricias, como se fossem parcelas de vós mesmos, a tal ponto que se considera o amor que uma mãe consagra a seus filhos como o maior amor que um ser possa votar a outro. Donde nasce o meigo afeto, a terna benevolência que mesmo os estranhos sentem por uma criança? Sabeis? Não. Pois bem! Vou explicá-lo.

As crianças são os seres que Deus manda a novas existências. Para que não lhe possam imputar excessiva severidade, dá-lhes Ele todos os aspectos da inocência. Ainda quando se trata de uma criança de maus pendores, cobrem-se-lhe as más ações com a capa da inconsciência. Essa inocência não constitui superioridade real com relação ao que eram antes, não. É a imagem do que deveriam ser e, se não o são, o consequente castigo exclusivamente sobre elas recai.

Não foi, todavia, por elas somente que Deus lhes deu esse aspecto de inocência; foi também e sobretudo por seus pais, de cujo amor necessita a fraqueza que as caracteriza. Ora, esse amor se enfraqueceria grandemente à vista de um caráter áspero e intratável, ao passo que, julgando seus filhos bons e dóceis, os pais lhes dedicam toda a afeição e os cercam dos mais minuciosos cuidados. Desde que, porém, os filhos não mais precisam da proteção e assistência que lhes foram dispensadas durante quinze ou vinte anos, surge-lhes o caráter real e individual em toda a nudez. Conservam-se bons, se eram fundamentalmente bons; mas, sempre irisados de matizes que a primeira infância manteve ocultos” (KARDEC, 2022, p. 169).

Após esse período de 7 anos, com o processo reencarnatório consolidado, fica mais difícil à criança e ao jovem assimilar os ensinamentos repassados pelos pais, exigindo destes um esforço maior, paciência e muito amor para que o processo educacional seja efetivo e tenha êxito.

A mudança que se opera nas crianças ao alcançarem a maturidade dos corpos vem da sua liberdade de expressar o que são. Ao se ajustarem mais os laços da reencarnação, a alma fica mais consciente do seu estado espiritual, e passa a ser o que realmente é.

O Espírito tem necessidade de voltar ao corpo quando precisa reparar suas faltas, ou quando a Lei o induz para o devido despertamento espiritual, e é nesse reingresso na carne que Deus lhes dá a capa de inocência. Desta forma, receberá desde o princípio da sua nova existência certa dose de carinho, por ser sua presença uma flor que desabrocha, sorrindo para a vida. Se esse Espírito expressasse imediatamente o que ele é, talvez suscitasse nos próprios pais antipatia, vibrando neles o magnetismo que caracteriza sua presença. Mas Deus, como é sábio e justo, dá-lhe uma candura suficiente para que sobre ele os olhos recaiam com amor, cobrindo-o de toda a proteção.

As mudanças nas criaturas são gradativas; essa é a ação das Leis de Amor, derramando sobre elas a misericórdia no sentido de que sustentem uma posição melhorada na sua existência que começa. Se essas crianças ficassem no mundo espiritual, esquecendo a reencarnação, seriam necessárias certas imposições, drásticas demais para seu tamanho, no sentido de corrigi-las. Mas a bondade mostra o amor do Pai Celestial nos dando oportunidades melhores para o prosseguimento do nosso despertamento. (MAIA, 1989, p.57)

A criança não é um “adulto miniaturizado”, nem uma “cera plástica”, facilmente moldável. Trata-se de um Espírito em recomeço, momentaneamente em esquecimento das realizações positivas e negativas que traz das vidas pretéritas, empenhado na conquista da felicidade. Redescobrindo o mundo e se reidentificando, tende a repetir atitudes e atividades familiares em que se comprazia antes, ou através das quais sucumbiu.

Tendências, aptidões, percepções são lembranças evocadas inconscientemente, que renascem em forma de impressões atraentes, dominantes, assim como limitações, repulsas, frustrações, agressividade e psicoses constituem impositivos constritores ou restritivos, não poucas vezes dolorosos, de que se utilizam as Leis Divinas para corrigir e disciplinar o rebelde que, apesar da manifestação física em período infantil, é Espírito relapso, mais de uma vez acumpliciado com o erro, a ele fortemente vinculado, em fracasso morais sucessivos. (FRANCO, 2002, p.84)

Uma das atividades oferecidas na Casa Espírita é a Evangelização infanto-juvenil. Normalmente concomitante às palestras endereçadas aos adultos, as crianças e jovens têm como excelente opção assistirem as aulas sobre o Evangelho de Jesus na visão espírita. Cada Centro Espírita ministra essa atividade orientada pelas diretrizes da Federação Espírita Brasileira de modo a embasar o conteúdo a ser repassado às crianças.

Levando em conta as profundas transformações sociais que o mundo vem atravessando a Evangelização Espírita é uma ferramenta de suma importância na formação do ser no aspecto moral e espiritual. Paralelamente com a educação formal e com os princípios e valores aprendidos no lar, a criança e o jovem ao se afinarem e familiarizarem com os ensinamentos deixados pelo Cristo, baseados no amor ao próximo e a si mesmo, apresentam maior preparo para os revezes e obstáculos perante a vida.

O Centro Espírita, consciente de sua missão, deve envidar todos os esforços, não só para a criação das Escolas de Evangelização Espírita Infanto-Juvenil como para seu pleno funcionamento, considerando a sua importância em termos da formação moral das novas gerações e da preparação dos futuros obreiros da Casa e do Movimento Espíritas. (Passatempo Espírita, on-line).

Como objetivos da evangelização podemos citar:

  • Promover a integração do evangelizando: consigo mesmo; com o próximo e com Deus.
  • Proporcionar ao evangelizando o estudo: da lei natural que rege o Universo; da “natureza, origem e destino dos Espíritos bem como de suas relações com o mundo corporal.”
  • Oferecer ao evangelizando a oportunidade de perceber-se como: Homem integral, crítico, consciente, participativo, herdeiro de si mesmo, cidadão do Universo, agente de transformação de seu meio. (FEB, 1987, on-line)

Respeito às diferenças, valorização da vida, consideração pelo outro, compaixão e cooperação social são alguns exemplos de temas a serem trabalhados durante as aulas de Evangelização. Por meio de exemplos retirados do Evangelho e do cotidiano das crianças e jovens, numa linguagem lúdica e criativa, eles vão assimilando os conteúdos com mais facilidade e, o mais importante de tudo, deixando-se cativar e sensibilizar pelas belas e profundas mensagens de Jesus.

Daí a importância do papel do evangelizador espírita que deve estar convicto na eficácia da educação como instrumento libertador, ainda que as condições físicas, emocionais, sentimentais ou psicológicas do educando estejam provisoriamente frágeis.  Por meio do esforço amoroso, o evangelizador deve entender que o crescimento individual é gradativo e estar convicto de que o educando Espírito imortal e filho da Divindade possui a capacidade de superar-se na trilha da própria ascensão.

Além disso, o estudo da Doutrina Espírita por meio da leitura segura das obras básicas e das obras subsidiárias deve constituir roteiro seguro para aquele que se dispõe a ser educador de almas. (FARIAS, 2012, p.23-24).

Para que a Humanidade alcance melhor patamar evolutivo, a educação deve associar inteligência e moralidade. Moralidade que extrapola teologias, normas e dogmas religiosos, por se fundamentar na prática do bem, que analisa de forma reflexiva as consequências das próprias ações individuais e que adota como regra universal de convivência a milenar orientação recordada por Jesus: “Fazer ao outro o que gostaria que o outro nos fizesse”. (MOURA, 2014, on-line)

O Espiritismo pode iluminar a Educação com uma filosofia que transpõe os imediatismos, que transcende a todos os limites, que descortina os mais amplos horizontes, que atende aos mais nobres interesses, e que se reveste de um ideal capaz de impulsionar o verdadeiro progresso.

A educação, quando levar em consideração o ser humano de maneira integral, em seu aspecto intelecto-moral-espiritual, viabilizando a transformação íntima do Espírito atingirá seu objetivo essencial. O indivíduo educado se transforma em servidor da humanidade e instrumento de Deus, contribuindo para que a fraternidade se estabeleça no planeta. (MOURA, 2014,on-line)

Evangelizador Espírita

Janaína Magalhães

Nessa seara bendita

De ensino e dedicação

Feliz do que se realiza

Nas aulas de evangelização

Com muito empenho e amor

Envolvendo cada criança

É tarefa do educador

Transformar e promover a mudança

Em cada mundo interno

Há muita descoberta a fazer

Disponibilize a si mesmo

Para a educação do Ser

Perceba pelo olhar

Pela fala ou aptidão

Quem é o evangelizando

E acesse seu coração

Amor é o que move

O evangelizador preparado

Para a tarefa sublime

Que traz muito aprendizado

Na palavra que contagia

Pelo saber que conduz

Jesus é Modelo e Guia

Exemplo de pura luz

=========

Fonte: Letra Espírita

Referências:

A Evangelização infantojuvenil Espírita – Material para Capacitação de Evangelizadores – In: Passatempo Espírita – Disponível em: https://www.passatempoespirita.com.br/a-importancia-da-evangelizacao-infantojuvenil-capacitacao-de-evangelizadores/ – Acesso em 06 de agosto de 2023.

FARIAS, Janaína Conceição M. de. Diretrizes Apostólicas para o Evangelizador. Ditado por Espíritos Diversos. 1. ed. Belo Horizonte: Semeador, 2012.

FRANCO, Divaldo – SOS Família. Ditado pelo Espírito de Joanna de Ângelis e Diversos Espíritos. 17. ed. Salvador: LEAL, 2002.

KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, tradução de Guillon Ribeiro. Campos dos Goytacazes/RJ: Editora Letra Espírita. 2022.

MAIA, João Nunes- Filosofia Espírita – Volume VIII. Ditado pelo Espírito de Miramez. Belo Horizonte: Fonte Viva, 1989.

MOURA, Marta Antunes – Trecho retirado da mensagem psicofônica recebida pelo Espírito de Meimei. FEB, Brasília, 29 de maio de 2014.

O Que é Evangelização? Fundamentos da Evangelização Espírita da Criança e do Jovem. Rio de Janeiro: FEB, 1987 – Disponível em: https://www.bezerrademenezesnatal.org.br/cursos-evangelizacao/o-que-e-evangelizacao.html – Acesso em 05 de agosto de 2023.

SILVEIRA, Guaraci de Lima – A crise dos 8 anos – Site O Consolador – Janeiro de 2017 -Disponível em: http://www.oconsolador.com.br/ano10/498/ca2.html Acesso em 05 de agosto de 2023.

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O Espírito e seu corpo

Paulo Afonso

Quando o espírito sai do corpo | O TEMPO

Gênesis 3:19

“Do suor do teu rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra, porque dela foste tomado; porquanto és pó, e ao pó tornarás.”

NO MOMENTO DA PARTIDA DO VEÍCULO FÍSICO:

Quando o momento da separação chegar, o Espírito deve-se despedir do corpo, com os agradecimentos nascido do fundo do coração, com muito amor, gratidão e humildade. Este instrumento fantástico e maravilhoso, nos suporta, em todos os instantes da vida. Pouco, foram os momentos em que o respeitamos, praticando esporte e o alimentando corretamente. É ele a ferramenta pela qual Deus nos emprestou, e merece de nós, todo o respeito. Mas, nós o agredimos, através do que entra e sai pela boca, pelas más emoções, dos riscos físicos do qual o expomos e através de todos os prazeres, vícios e sensações que o prejudica e o agride. Nossa ignorância é tão grande, que destruímos até o habitar saudável, a sua própria sobrevivência e a de toda a cadeia da natureza, que nos trazem o equilíbrio planetário. E nele que encontramos através das várias encarnações sucessivas, e cada uma com um corpo que se merece e se conquista, isto, segundo nossos valores morais e intelectuais alcançado e exercitado em favor de nós mesmo e dos semelhantes, e assim, colhendo sempre, o que semeamos, como nos alertou Jesus. É nele e através dele, que podemos viajar nas escolas do mundo, em seus mais variados graus de escolaridade. E é o que nos fazem sermos diferentes um dos outros e aprender assim, a crescer, e ascender a escada que nos conduz a Deus, evoluindo a cada encarnação. Esses são os nossos objetivos a ser alcançado, através dos quesitos, morais, intelectuais, sociais, éticos e políticos, dentro das ciências, das filosofias, das sociologias e das religiões. Deus nos criou simples e ignorantes, para que um dia, através das virtudes conquistadas individualmente, pudéssemos retornarmos aos seus braços, iluminados pelo esforço próprio de cada um. E nada disto seria possível, sem o auxílio de um corpo físico e de preferência, saudável. Por tudo isto e muito mais, devemos respeitá-lo com todo amor.

NO MOMENTO… A DESPEDIDA COM TERNURA:

Autora do poema abaixo: “Mallika Fittipaldi”

Na cama, estendido ele dorme.

Olho para cada parte sua.

Os cabelos esbranquiçados pelo tempo.

As pálpebras caídas.

Por baixo delas olhos que já não têm tanto brilho.

Já não têm tanta luz seus cristalinos.

Ao lado dos lábios as cicatrizes dos sorrisos.

Afinados pelo uso constante.

Faltam-lhe alguns dentes.

Outros estão desgastados pelo uso.

A face não tem mais o rosado da infância.

E as carnes se depõem flácidas sobre os ossos.

Na testa, mil caminhos que se estendem aos olhos.

São as rugas de milhões de expressões durante a vida.

A musculatura frouxa encobre a sua ossatura.

Não existe mais firmeza e delineamento.

Os órgãos também não se prestam à precisão.

Falham e funcionam lentamente.

Viveu comigo por toda minha vida.

Compartilhou minhas vitórias, minhas alegrias.

Minhas perdas e derrotas.

Sempre estava lá.

Quando voltava das minhas saídas noturnas.

Acompanhado pelos parceiros e guias.

Agora espero seu último suspiro.

As máquinas já foram desligadas.

O coração quase que não atende mais o seu propósito.

Os companheiros de outras jornadas esperam comigo.

Falta pouco…

Em um instante ele estremece.

O último fio que nos liga é cortado.

Chego próximo.

Dou-lhe o último ósculo.

Agradeço por ter sido a minha morada por longos anos.

Por ter suportado meus excessos.

Abraço meu guia e partimos.

Findou mais uma vida na Terra.

Inicia-se nova jornada no mundo da alma.

Fonte: Espiritualidade e Sociedade

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Jesus e o precursor

Após a famosa apresentação de Jesus aos doutores do Templo de Jerusalém, Maria recebeu a visita de Isabel e de seu filho, em sua casinha pobre de Nazaré.

Depois das saudações habituais, do desdobramento dos assuntos familiares, as duas primas entraram a falar de ambas as crianças, cujo nascimento fora antecipado por acontecimentos singulares e cercado de estranhas circunstâncias.

Enquanto o patriarca José atendia às últimas necessidades diárias de sua oficina humilde, entretinham-se as duas em curiosa palestra, trocando carinhosamente as mais ternas confidências maternais.

– O que me espanta, dizia Isabel com caricioso sorriso é o temperamento de João, dado às mais fundas meditações, apesar da sua pouca idade. Não raro, procuro-o inutilmente em casa, para encontrá-lo, quase sempre, entre as figueiras bravas, ou caminhando ao longo das estradas adustas, como se a pequena fronte estivesse dominada por graves pensamentos.

– Essas crianças, – a meu ver respondeu-lhe Maria, intensificando o brilho suave de seus olhos -, trazem para a Humanidade a luz divina de um caminho novo.

– Meu filho também é assim, envolvendo-me o coração numa atmosfera de incessantes cuidados. Por vezes, vou encontrá-lo a sós, junto das águas, e, de outras, em conversação profunda com os viajantes que demandam a Samaria ou as aldeias mais distantes, nas adjacências do lago. Quase sempre, surpreendo-lhe a palavra caridosa que dirige às lavadeiras, aos transeuntes, aos mendigos sofredores… Fala de sua comunhão com Deus com uma eloquência que nunca encontrei nas observações dos nossos doutores e, contentemente, ando a cismar, em relação ao seu destino.

– Apesar de todos os valores da crença murmurou Isabel convicta, nós, as mães, temos sempre o espírito abalado por injustificáveis receios.

Como se se deixasse empolgar por amorosos temores, Maria continuou:

– Ainda há alguns dias, estivemos em Jerusalém, nas comemorações costumeiras, e a facilidade de argumentação com que Jesus elucidava os problemas, que lhe eram apresentados pelos orientadores do templo, nos deixou a todos receosos e perplexos. Sua ciência não pode ser deste mundo; vem de Deus, que certamente se manifesta por seus lábios amigos da pureza. Notando-lhe as respostas, Eleazar chamou a José, em particular, e o advertiu de que o menino parece haver nascido para a perdição de muitos poderosos em Israel.

Com a prima a lhe escutar atentamente a palavra, Maria prosseguiu, de olhos úmidos, após ligeira pausa:

– Ciente desse aviso, procurei Eleazar, a fim de interceder por Jesus, junto de suas valiosas relações com as autoridades do templo. Pensei na sua infância desprotegida e receio pelo seu futuro. Eleazar prometeu interessar-se pela sua sorte; todavia, de regresso a Nazaré, experimentei singular multiplicação dos meus temores.

Conversei com José, mais detidamente, acerca do pequeno, preocupada com o seu preparo conveniente para a vida!…

Entretanto, no dia que se seguiu às nossas íntimas confabulações, Jesus se aproximou de mim, pela manhã, e me interpelou:

“Mãe, que queres tu de mim? Acaso não tenho testemunhado a minha comunhão com o Pai que está no Céu!”

Altamente surpreendida com a sua pergunta, respondi-lhe, hesitante:

– Tenho cuidado por ti, meu filho! Reconheço que necessitas de um preparo melhor para a vida… Mas, como se estivesse em pleno conhecimento do que se passava em meu íntimo, ponderou ele:

“Mãe, toda preparação útil e generosa no mundo é preciosa; entretanto, eu já estou com Deus. Meu Pai, porém, deseja de nós toda a exemplificação que seja boa e eu escolherei, desse modo, a escola melhor.”

No mesmo dia, embora soubesse das belas promessas que os doutores do templo fizeram na sua presença a seu respeito, Jesus aproximou-se de José e lhe pediu, com humildade, o admitisse em seus trabalhos. Desde então, como se nos quisesse ensinar que a melhor escola para Deus é a do lar e a do esforço próprio concluiu a palavra materna com singeleza: – ele aperfeiçoa as madeiras da oficina, empunha o martelo e a enxó, enchendo a casa de ânimo, com a sua doce alegria!

Isabel lhe escutava atenta a narrativa, e, depois de outras pequenas considerações materiais, ambas observaram que as primeiras sombras da noite desciam na paisagem, acinzentando o céu sem nuvens.

A carpintaria já estava fechada e José buscava a serenidade do interior doméstico para o repouso.

As duas mães se entreolharam, inquietas, e perguntavam a si próprias para onde teriam ido as duas crianças.

Nazaré, com a sua paisagem, das mais belas de toda a Galileia, é talvez o mais formoso recanto da Palestina. Suas ruas humildes e pedregosas, suas casas pequeninas, suas lojas singulares se agrupam numa ampla concavidade em cima das montanhas, ao norte do Esdrelon. Seus horizontes são estreitos e sem interesse; contudo, os que subam um pouco além, até onde se localizam as casinholas mais elevadas, encontrarão para o olhar assombrado as mais formosas perspectivas. O céu parece alongar-se, cobrindo o conjunto maravilhoso, numa dilatação infinita.

Maria e Isabel avistaram seus filhos, lado a lado, sobre uma eminência banhada pelos derradeiros raios vespertinos. De longe, afigurou-se-lhes que os cabelos de Jesus esvoaçavam ao sopro caricioso das brisas do alto. Seu pequeno indicador mostrava a João as paisagens que se multiplicavam a distância, como um grande general que desse a conhecer as minudências dos seus planos a um soldado de confiança. Ante seus olhos surgiam as montanhas de Sarnaria, o cume de Magedo, as eminências de Gelboé, a figura esbelta do Tabor, onde, mais tarde, ficaria inesquecível o instante da Transfiguração, o vale do rio sagrado do Cristianismo, os cumes de Safed, o golfo de Khalfa, o elevado cenário do Pereu, num soberbo conjunto de montes e vales, ao lado das águas cristalinas.

Quem poderia saber qual a conversação solitária que se travara entre ambos?

Distanciados no tempo, devemos presumir que fosse, na Terra, a primeira combinação entre o amor e a verdade, para a conquista do mundo. Sabemos, porém, que, na manhã imediata, em partindo o precursor na carinhosa companhia de sua mãe, perguntou Isabel a Jesus, com gracioso interesse:

– Não queres vir conosco? ao que o pequeno carpinteiro de Nazaré respondeu, profeticamente, com inflexão de profunda bondade: “João partirá primeiro.”

Transcorridos alguns anos, vamos encontrar o Batista na sua gloriosa tarefa de preparação do caminho à verdade, precedendo o trabalho divino do amor, que o mundo conheceria em Jesus Cristo.

João, de fato, partiu primeiro, a fim de executar as operações iniciais para grandiosa conquista. Vestido de peles e alimentando-se de mel selvagem, esclarecendo com energia e deixando-se degolar em testemunho à Verdade, ele precedeu a lição da misericórdia e da bondade.

O Mestre dos mestres quis colocar a figura franca e áspera do seu profeta no limiar de seus gloriosos ensinos e, por isso, encontramos em João Batista um dos mais belos de todos os símbolos imortais do Cristianismo. Salomé representa a futilidade do mundo, Herodes e sua mulher o convencionalismo político e o interesse particular. João era a verdade, e a verdade, na sua tarefa de aperfeiçoamento, dilacera e magoa, deixando-se levar aos sacrifícios extremos.

Como a dor que precede as poderosas manifestações da luz no íntimo dos corações, ela recebe o bloco de mármore bruto e lhe trabalha as asperezas para que a obra do amor surja, em sua pureza divina. João Batista foi a voz clamante do deserto. Operário da primeira hora, é ele o símbolo rude da verdade que arranca as mais fortes raízes do mundo, para que o reino de Deus prevaleça nos corações. Exprimindo a austera disciplina que antecede a espontaneidade do amor, a luta para que se desfaçam as sombras do caminho, João é o primeiro sinal do cristão ativo, em guerra com as próprias imperfeições do seu mundo interior, a fim de estabelecer em si mesmo o santuário de sua realização com o Cristo. Foi por essa razão que dele disse Jesus:

“Dos nascidos de mulher, João Batista é o maior de todos.”

Humberto de Campos, Espírito, psicografia de Chico Xavier do livro: Boa nova

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Convivendo com os psicopatas

Diante dos inúmeros casos de violência, que tem tirado o sossego da sociedade organizada no Brasil e no mundo, é um dever profissional informar ao leitor dessa coluna sobre uma faceta do comportamento humano capaz de causar questionamentos e conclusões equivocadas. Trata-se do transtorno da personalidade antissocial, mais conhecida como psicopatia.

Dez sinais que caracterizam esse comportamento: incapacidade de adequar-se às normas sociais; impulsividade ou fracasso em fazer planos para o futuro; desrespeito e irresponsabilidade pela segurança própria ou alheia; ausência de remorso, indicada por indiferença ou racionalização por ter ferido, maltratado ou roubado alguém; crueldade física para com pessoas ou animais; provocações, ameaças e intimidações frequentes; utilização de arma capaz de infligir graves lesões corporais – uso de faca, revolver, bastão, garrafa quebrada, tijolo, etc.; coação para que alguém tenha relação sexual com ele; mentiras frequentes para obter bens ou favores ou para esquivar-se de obrigações legais e ludibriar pessoas; irritabilidade e agressividade, indicadas por repetidas lutas corporais ou agressão física. Esses e outros critérios diagnósticos encontram-se no DSM-IV – (301.7), DSM-IV TR (312.8) e CID 10-(F60.2).

Estudos recentes, realizados nos Estados Unidos, na Universidade de Wisconsin Madison, com 40 presidiários que cometeram crimes semelhantes, nos quais 20 tiveram diagnóstico de psicopatia, observaram que estes apresentavam menos conexão entre o córtex pré-frontal (sentimento de culpa e empatia) e a amígdala (medo e ansiedade). Esses dois campos, na visão dos neurocientistas, deveriam regular as emoções e o comportamento social. A não comunicação adequada pode ajudar a explicar a razão das reações dos psicopatas na vida de relação. O acompanhamento terapêutico deverá ser aplicado com adequado treinamento por parte dos especialistas, psiquiatras e psicólogos com a devida experiência nessa psicopatologia. Desconheço até o momento ter sido encontrado recurso clínico ou cirúrgico para reversão desse quadro. Até aqui, parece que teremos que conviver com esse desafio.

Antes que pareça uma aprovação aos crimes perversos e hediondos, sugiro uma reflexão trazida por Allan Kardec em O Livro dos Espíritos: Pergunta 736 – O assassinato é um crime aos olhos de Deus? Resposta: Sim, um grande crime; porque aquele que tira a vida de seu semelhante corta uma vida de expiação ou de missão, e aí está o mal. E na pergunta 737: O assassinato tem sempre o mesmo grau de culpabilidade? Resposta: Já o dissemos: Deus é justo, julga mais a intenção do que o fato.

Antes de fecharmos a questão, julgando e ou polarizando opiniões e decisões expostas no calor das emoções, parece ser mais coerente considerar o que nos foi trazido pelo codificador, orientado pelos espíritos superiores, que na natureza não há acasos; e tudo que nos acontece tem uma razão de ser. Embora tenhamos todos sido criados com a simplicidade e ignorância (sem conhecimento), temos todos uma eternidade de oportunidades de construirmos a nossa história enquanto seres humanos que somos. Os aparentes “defeitos” que apresentamos na vida atual não representam nossa identidade real. Ao longo do percurso reencarnatório os ajustes que se fizerem necessário estarão sempre se adequando em conformidade com a frequência vibracional alcançada pelo ser viajor que somos, com reflexos no corpo físico ou somático, aproximando cada vez mais da representatividade dos seres de luz. Viemos da luz e para a luz voltaremos para prosseguir iluminando os caminhos obscuros que se apresentarem diante de nós. E juntos, seguiremos na jornada de amor.

Lembrando uma estória Sufi:

Um mestre do Oriente viu quando um escorpião estava se afogando e decidiu tirá-lo da água, mas quando o fez o escorpião o picou. Pela reação de dor, o mestre o soltou e o animal caiu de novo na água e estava se afogando de novo. O mestre tentou tirá-lo novamente e novamente o animal o picou. Alguém que estava observando se aproximou do mestre e lhe disse: “Desculpe-me, mas você é teimoso! Não entende que todas às vezes que tentar tirá-lo da água ele irá picá-lo?” O mestre respondeu: “A natureza do escorpião é picar, e isto não vai mudar a minha, que é ajudar”. Então, com a ajuda de uma folha o mestre tirou o escorpião da água e salvou sua vida.

Não mude sua natureza se alguém lhe faz algum mal; apenas tome precauções. Alguns perseguem a felicidade, outros a criam.

Preocupe-se mais com sua consciência do que com sua reputação.

Porque sua consciência é o que você é, e sua reputação é o que os outros pensam de você. E o que os outros pensam é problema deles.

Arleir Bellieny

Fonte: Espiritismo na Rede

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Deus e a Ciência, a Ciência e Deus: um diálogo possível

 

O Espiritismo precisa dialogar com as Ciências e com os demais ramos do conhecimento humano, sob pena de se tornar obsoleto, ultrapassado.

Por Marcelo Henrique

Volta e meia revisito textos. Não os meus, especificamente, mas aqueles que foram publicados principalmente na imprensa leiga e que guardem alguma correlação com a Filosofia Espírita. Cursando, atualmente, o Doutorado em Administração na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), todos os dias, em múltiplas atividades, se reafirmam os conceitos de transdisciplinaridade, interdisciplinaridade e multidisciplinaridade.

A transdisciplinaridade consiste no conhecimento plural em que diferentes áreas ou disciplinas colaboram entre si, de forma interligada, em um projeto comum, mas com atividades separadas e independentes. Como exemplo, temos uma criança que possua um transtorno do espectro autista (TEA), que receberá apoio, atendimento e cuidados de distintos profissionais, como médico, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional, terapeuta aplicador, assistente social, os quais, cada um dentro de sua especialidade, irão fornecer ao paciente terapias e a atenção específica resultando, no somatório, numa melhor qualidade de vida para aquele.

Interdisciplinaridade, por sua vez, compreende a existência de pontos comuns entre segmentos do conhecimento, permitindo a “conversa” entre eles, na ampliação do entendimento sobre ele. Quando se busca entender a conexão entre as emoções e a saúde humana, disciplinas como filosofia, arte, biologia, pedagogia e psicologia, juntas, permitem uma melhor delimitação da influência das primeiras sobre a última.

Por fim, a multidisciplinaridade pressupõe que as diferentes áreas ou disciplinas compartilhem suas semelhanças e diferenças, reunindo informações necessárias a atingir um determinado objetivo central, com cada uma trabalhando isoladamente e depois reunindo os resultados. Exemplificando, para analisar a questão do desmatamento na Amazônia, a Geografia pode delimitar os aspectos relacionados ao solo e à vegetação, a História pode informar acerca dos povos originários e das comunidades que se sustentam economicamente com o extrativismo, a Matemática pode elencar estatisticamente os dados dos desmatamentos e os esforços de preservação, o Direito pode destacar a defesa dos direitos envolvidos e a criminalização daqueles que desrespeitam.

“Temos praticado, no contexto do grupo “Espiritismo COM Kardec”, na rede social Facebook [1] e em nosso portal na web, o COM Kardec [2], estas três vertentes. Em especial, nas nossas lives ordinárias, que acontecem quinzenalmente, e no Fórum do Livre Pensar Espírita (LiPE), que irá para a quinta edição no próximo mês de dezembro [3], é possível acompanhar o diálogo do pensamento espírita com outras correntes filosóficas, científicas e religiosas, permitindo que os variados saberes se articulem e que o indivíduo, Espírito encarnado adquira outros conhecimentos e progrida.”

Voltando à ideia inicial, de compulsar matérias jornalísticas que tenham correlação com o Espiritismo, temos a revista “Veja”, número 1992, de 24 de janeiro de 2007 [4], com uma entrevista com um dos mais notáveis cientistas do século XXI, Francis Collins, o biólogo que desvendou o genoma humano (compreendendo a estrutura genética dos seres humanos, a partir do mapeamento do DNA, em 2001), à jornalista Gabriela Carelli.

Collins é o representante de um segmento científico que, a partir de pesquisas, experimentos, ensaios, deduções lógicas e teses, chega à conclusão da existência de “questões filosóficas que transcendem a ciência, [e] que fazem parte da existência humana”, conforme afirmou na entrevista. Em seu livro “A linguagem de Deus”, ele demonstra a sua metamorfose íntima, de um “ateu insolente” para um adepto das ideias do Cristianismo. E isto, no meio científico, é algo raro e surpreendente. Não em termos das convicções íntimas, que todos podem ter, mas em expressar isso perante a comunidade científica. A obra foi lançada em solo americano em 2006 e recebeu tradução para o português, pela Editora Gente, em 2007.

A obra converge para um conceito bastante comum em algumas ciências e filosofias, o da transcendência, permitindo a investigação acerca da existência de uma ordem cósmica, representada por uma força inteligente no Universo, que se rege por leis físicas e metafísicas – o que converge, em termos de multidisciplinaridade, com os apontamentos contidos nas obras de Allan Kardec, especialmente em “O livro dos Espíritos” e em “A Gênese”.

Collins é visto como um cientista pragmático e consciente, que concilia, multidisciplinarmente, as distintas teorias de Darwin (que demonstram o evolucionismo das espécies) e os princípios filosóficos de doutrinas que vislumbram uma Força Única – cujas denominações podem variar, mas que, em muitas doutrinas apontam para uma Divindade – que por meio de Leis Imutáveis permite a dinâmica evolucionista darwiniana e, em paralelo, o progresso espiritual.

Ele, inclusive, na citada entrevista, pontua que aqueles “cientistas que se dizem ateus têm uma visão empobrecida” acerca dos questionamentos humanos mais comuns, como: “O que acontece depois da morte?” ou “Qual é o motivo de eu estar aqui?”. Nas investigações multidisciplinares é permitido aos seres humanos “o direito de acreditar que a vida não é um simples episódio da natureza, explicado cientificamente e sem um sentido maior”, como ele assevera.

Neste sentido, outro notável cientista do século XX, Albert Einstein teria afirmado: “A Ciência sem a Religião é capenga. A Religião sem a Ciência é cega”. Novamente a multidisciplinaridade inspiradora…

“O cientista ainda avança para uma importante relação entre Ciência e Ética – que é a baliza que norteia os experimentos nos países democráticos da atualidade – no sentido não só de validar as pesquisas e direcioná-las, como, também, em relação a situações do cotidiano das pessoas, sobretudo no que concerne à Saúde. Em suas palavras, “interromper as pesquisas ou impedir que uma pessoa com uma doença terrível tenha uma vida melhor só porque a religião não aceita determinado tratamento, são atitudes antiéticas”.

Voltando às ideias espíritas, Kardec, em “A Gênese”, reforça o caráter do esforço individual e coletivo de pesquisadores e cientistas, que é resultado do atributo vontade (livre-arbítrio) no envolvimento de atividades que irão resultar da melhoria da vida planetária para indivíduos e coletividades e, em muitos casos, de toda a Humanidade. O Professor francês destaca que as descobertas científicas concorrem para o engrandecimento das Leis Universais, porque, semanticamente, dentro da ideia de crença em Deus, os resultados acadêmicos “glorificam a grandeza de Deus, porque concorrem para, ao constatarem a plenitude e a perfeição do Universo, assim como a magnitude das Leis Universais”. Estas leis, inclusive, foram detalhadas a partir dos depoimentos das Inteligências Invisíveis, por meio da mediunidade, conforme a perspectiva de entendimento dos homens do Século XIX, mas permanecem atuais porquanto superam os falsos conceitos que os próprios indivíduos hão feito de Deus, calcados em acanhadas ideias humanas, grande parte delas ligadas aos sincretismo e às dogmáticas religiosas.

“Afinal, voltando à necessária multidisciplinaridade, o Espiritismo precisa dialogar com as Ciências e com os demais ramos do conhecimento humano, sob pena de se tornar obsoleto, ultrapassado, ou limitado a figurar como uma “boa proposta” para a Humanidade, mas que não se converteu em práticas transformadoras das consciências humanas, no sentido de melhor entendimento interpessoal. Kardec, brilhantemente, consagra o princípio progressista e de progressividade das ideias espíritas: “O Espiritismo avançando com a Ciência jamais será ultrapassado”.

Neste itinerário de continuar consultando as Inteligências Invisíveis sobre os temas da atualidade, ao mesmo tempo em que acompanhe as iniciativas e dialogue com as Ciências, o Espiritismo permanecerá atual. Do contrário, figurará como uma doutrina ultrapassada, repleta de dogmas religiosos e de verdades definitivas.

Nós estamos do “lado” daqueles que continuam a consultar os Espíritos, comparando as respostas obtidas, desenvolvendo pesquisas e teses no intercâmbio entre encarnados e desencarnados, e no diálogo multidisciplinar com filosofias e ciências, permanentemente. E você, prefere estar do “lado” do que “acham” que o Espiritismo está “acima” de tudo e de todos?

Fonte: Portal da Casa Espírita Nova Era – Blumenau – Santa Catarina – SC

Notas do Autor:
[1] O grupo é praticamente uma sala de estudos permanente, podendo ser acessada 24 (vinte e quatro horas por dia), propiciando a troca de ideias e o conhecimento de artigos e documentos sobre o Espiritismo (https://www.facebook.com/groups/Espiritismo.COM.Kardec).
[2] Visite-nos e acesse textos, documentos, livros e outros materiais (https://www.comkardec.net.br).
[3] Nosso canal no YouTube registra todas as Lives realizadas pelo ECK, além de outras palestras, conferências e sessões de debates (https://www.youtube.com/@EspiritismoComKardec).
[4] A entrevista pode ser lida no endereço do Professor Helio Evangelista, da Universidade Federal fluminense (http://www.feth.ggf.br/Prova.htm).

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Responsabilidade solidária

As dores que dominam a humanidade nascem de cada um de nós, dos erros que praticamos, das omissões em que incorremos, da desatenção que pomos em tudo o que não nos interessa frontalmente. Por isso é que, entra ano, sai ano, temos a impressão de que a Terra piora, os homens se tornam mais frios e calculistas, mais interesseiros e egoístas.

Na realidade, porém, o número dos que confiam em Deus e dão alguma coisa de si, do seu esforço, para a melhoria do mundo tem crescido, ainda que nem todos disso se apercebam.

Dizemo-lo pelo desenvolvimento que o Espiritismo Cristão vem registrando, principalmente neste campo de observação mais ao alcance da nossa análise. Acontece que hoje se faz às escâncaras o que, em outros tempos, era feito ocultamente.

Agora; o despudor é maior, graças à influência mais forte e decisiva dos meios de comunicação que divulgam depressa e amplamente ideias tidas como importantes alterando negativamente, às vezes, os costumes e impondo hábitos de desbragada liberdade ao homem, à mulher, aos jovens e crianças em geral. Teorias anticristãs exaltadas por corifeus do materialismo, invadiram todos os países ocidentais, propugnando o abandono da educação moral, a pretexto de resguardar a criatura humana da compressão psicológica; notem que tudo isso sucede preponderantemente nesses países, ditos cristãos.

O “berço”, a “educação de berço” como se dizia em outros tempos, tem sido abandonada em muitos lares, porque os pais nem sempre se capacitam das responsabilidades que assumem ao contraírem casamento. Há propaganda contra o casamento tradicional no cinema, no teatro; na televisão e no rádio.

Defende-se o adultério e as aberrações sexuais. A procriação é encarada quase que como um erro clamoroso e são estimulados abusos que rebaixam a espécie humana, das quais resultam consequências tristes, dramáticas, dolorosas, fáceis de imaginar. Homens e mulheres procedem como animais, irmãos irracionais que, fiéis às leis da Natureza são, nesse particular, superiores às criaturas humanas degeneradas pelo vício.

Somos vaidosos, por aceitarmos que o homem foi feito à imagem e semelhança de Deus. Não devemos interpretar ao pé da letra o que é de caráter implicitamente simbólico, como, por exemplo, que Deus nos fez à Sua imagem e semelhança, conforme diz o “Gênesis”1:26: “Disse também Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança” e (v. 27) criou, pois, Deus, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou”. Mas na Bíblia está, outrossim, que Deus, depois de haver formado o homem do pó da terra, compreendendo que não seria bom que o homem estivesse só, adormeceu-o e… eis o trecho: “Disse, mais Deus Jeová.: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma adjutora que lhe seja idônea. (…) Fez Deus Jeová cair um sono pesado sobre o homem, e este adormeceu; então tomou uma das costelas do homem e fechou a carne no lugar dela. Da costela que Deus Jeová tinha tomado do homem formou a mulher, e a trouxe ao homem. (…) Portanto, deixa o homem a seu pai e a sua mãe, e se une a sua mulher; e são uma só carne.” (2:18. 21, 22 e 24).

Apreciamos e respeitemos o que está na Bíblia, sem, contudo, deixar de exercer o discernimento que Deus nos deu. Mas, se Deus disse “Façamos” e “nossa semelhança”. então, amigos, dar-se-á o caso de não haver estado Ele só, quando operou essas criações? Quem seria o seu acompanhante, ajudante, assistente, assessor ou que melhor nome tenha? Chi lo sa? É natural que estranhemos, pois, lá por volta dos séculos IV e V um poeta cristão, de nacionalidade espanhola – Aurélio Clement Prudêncio -, apresentou uma teoria imaginosa, como tantas outras que andam por aí, segundo a qual o Diabo fizera crer aos outros anjos que ele era o autor e criador de si mesmo e que não devia por isso a Deus a sua existência. O Diabo também se gabava de haver sido o criador da matéria extraindo-a do seu próprio corpo.

Não há dúvida de que o Diabo, Satã, Demônio ou outro qualquer nome, foi uma das invenções mais célebres da história da humanidade. Tem servido para muita coisa, uma das principais a chamada “política do campanário”. Com o que se gastou com esse mito e suas terríveis proezas poder-se-ia ter acabado com a fome e a miséria na Terra. Mas os “teólogos” da antiguidade precisavam de alguma coisa que assustasse as criaturas humanas e as tornassem, pelo medo, submissas e manobráveis aos planos dos que mandavam e desmandavam, ao sabor de interesses que variavam entre o desejo de reprimir o mal com a aplicação do mal e o de encontrar uma solução cômoda, transferindo para o Diabo, um mito, a responsabilidade dos vícios e erros humanos.

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Ora, “Satanás, Diabo, Demônio, são nomes alegóricos pelos quais se designa o conjunto dos maus espíritos empenhados na perda do homem”. Não se trata, pois, de um espírito especial, “mas a síntese dos piores Espíritos que perseguiam os homens, desviando-os do caminho de Deus. Desviavam-nos porque os maus Espíritos sempre se aproveitam das falhas de caráter, vícios, e defeitos morais dos homens para induzi-los à prática de ações prejudiciais ao Bem.

No fundo, na encenação alegórica apresentada pela Bíblia, há a verdade oculta pelo véu da letra. O homem, uma vez formado e em condições de exercer o livre-arbítrio que lhe é dado com oportunidade, passa a ser responsável por seus atos. Instruído sobre a conveniência de seguir o caminho reto, quando falha, torna-se responsável por sua falta. De acordo com a Lei, que o pune na proporção da gravidade da infração cometida, sofre.

Quanto mais reincide, mais padece. De nada adiantará gritar contra a dor, se não tomar a resolução de mudar seu comportamento. Foi isto que Jesus veio esclarecer e esclarece com extraordinária lucidez em seu Evangelho. Ele não veio modificar a lei transmitida através de Moisés, veio cumpri-la dando-lhe correta interpretação. Porque o Diabo é um símbolo apenas.

Eis por que devemos ter cuidado até com o que pensamos, porque o pensamento tanto pode exercer influência favorável, positiva, como desfavorável, negativa, contra e a nosso favor, contra e a favor de terceiros. O mal que podemos causar a outras pessoas quando emitimos pensamentos de inveja, ódio, despeito, antipatia, etc., recai sobre nós, aumenta o nosso débito cármico. O Evangelho de Jesus veio para que a humanidade pudesse ter mais operantes elementos de auto educação moral e, igualmente, para, colaborar na educação e reeducação de seus semelhantes. Desde que nos eduquemos para o bem, higienizando as ideias que emitimos, as palavras que proferimos e os atos que praticamos, impediremos a poluição da nossa mente e da mente daqueles que recebem nossas vibrações.

Ajudando-nos a melhorar, também contribuiremos para melhorar o ambiente em que estamos e, concomitantemente, colaboraremos para ajudar a humanidade a melhorar também. A felicidade do mundo não é conquista fácil e a curto prazo. Pelo contrário. Mas, se cada qual, a despeito das dificuldades e até dos insucessos, não desistir de procurar realizar o bem, mesmo quando o mal aparente ou não seja o resultado provisório dos seus esforços, plantará semente benéfica, cujos frutos surgirão fatalmente, mais cedo, ou mais tarde.

Os que acreditam na existência real do Diabo e os que possam acreditar na fantasia de ele ter sido o criador de si mesmo, poderão admitir, talvez, que tenha sido ele o “outro” que estaria com Deus quando o homem foi criado? Quantos absurdos juntos! Mais ainda: se o Diabo foi o criador de si mesmo é porque já existia quando se criou… E caímos ainda mais na confusão de palavras, tentando dar nexo a esse contra senso.

Pensemos no que temos a modificar em nós, ao mesmo tempo procurando consolidar as virtudes, se é que já possuímos alguma. O mal do mundo é derivado do mal dos homens, que ainda persistem em não reconhecer a realidade de uma Inteligência Prodigiosa – DEUS, que dirige os mundos e a vida. Mas porque Deus? – perguntarão os céticos. Porque foi esse o nome que se convencionou dar a essa Inteligência Superior que excede a qualquer definição humana. Como pode o inferior negar o superior, o finito contestar o infinito, o mal sobrepujar o bem? Tudo é questão simples de lógica mais elementar. Deus não deixará de existir só porque os materialistas O negam, apegados ao ateísmo tolo de quem contesta o que está além da sua capacidade de julgar. Mas, como todos estamos sujeitos a reencarnações progressivas, nós e os que negam a Deus, dia virá em que os contestadores compreenderão o que hoje recusam aceitar, com empáfia ridícula, pois estamos todos subordinados ao mecanismo psicovibratório da Lei de Causa e Efeito, que registra, aceita e devolve a cada um os sentimentos experimentados e externados no curso de sua existência. Os sentimentos, que são forças vibratórias que saem de nós, voltam para nós, beneficiando-nos ou castigando-nos conforme sua natureza.

Tudo quanto de mais secreto queiramos saber de Deus poderá ser, um dia, do nosso conhecimento, quando nos encontrarmos suficientemente evoluídos para suportar o impacto de tão transcendentais revelações.

Não nos esqueçamos, entretanto, de que somos responsáveis na situação atual do mundo, por nosso passado espiritual ou por nosso presente delituoso. E há somente um caminho de alívio até que seja eliminado o peso dessa imensa cumplicidade: praticar o bem, exercitar sem esmorecimento a fraternidade, fazendo pelos outros pelo menos o que desejamos que os outros nos façam. Fora daí nada conseguiremos, a não ser sobrecarregar o fardo que carregamos, multiplicando nossas preocupações e nossos sofrimentos, porque estamos num mundo em que tudo tem de ser solidário. Busquemos o melhor, sendo solidários com o bem.

Túlio Tupinambá (Indalício Mendes)

Revista Reformador (FEB) Dezembro 1976

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Homem-psi!

– Dr. Ricardo Di Bernardi

Até alguns anos atrás, tínhamos uma concepção de um Homem espiritual e a sua contraposição no conceito de um homem-animal. Havia uma antropologia espiritualista e, do lado oposto, uma antropologia materialista.

O avanço das pesquisas científicas, no campo do conhecimento do Ser, levou a uma solução do dilema espiritualismo x materialismo. O homem psicológico de antes não pode mais hoje se restringir a rede animal dos sentidos convencionais. Teve, obrigatoriamente, que se abrir ao extra-sensorial, da mesma forma como o universo físico se ampliou no universo Energético.

O homem-psi é uma miniatura da nova concepção de universo. Além de tudo, a própria concepção de energia mudou, ampliou-se. O homem-psi atual não destrói o homem-psicológico, mas o amplia da mesma forma que o conceito universo físico foi superado pelo conceito de universo Energético.    A psique ou alma não é mais uma entidade meramente metafísica ou teológica nem um simples resultado das atividades bioquímicas do corpo. A alma passou a ser a mente, um elemento extrafísico do Homem, capaz de sobreviver à morte biológica e suscetível a investigação científica em laboratório.

Na universidade de Cambridge, o professor Whately Carington, formulou uma teoria post-mortem e Harry Price da Universidade de Oxford, afirma que a MENTE humana sobrevive após a morte e continua sendo capaz de transmitir telepaticamente.

Embora haja parapsicólogos comprometidos com instituições religiosas, muitos são independentes, portanto livres para investigar. Assim, dentre as investigações mais significativas citaremos as do Prof. Pratt da Duke University dando origem à classificação de um novo tipo de fenômeno paranormal, denominado teta – oitava letra do alfabeto grego, com a qual se escreve Tanathos, que significa morte. Quaisquer contatos com mentes que sobrevivem a morte estão inseridos nesse estudo.

Outro grupo de fenômenos pesquisados são os relacionados com a existência de vidas passadas (reencarnações), investigados em mais de 2000 (duas mil) crianças que se recordavam, espontaneamente, de suas existências anteriores, um trabalho minucioso do Prof. Dr. Ian Stevenson da Universidade da Virgínia. Semelhante ao do Prof. Banerjee, da Universidade de Jaipur na Índia. Trata-se de MEC, memória extracerebral. Trabalhos rigorosíssimos e cercados de inúmeros cuidados.

Na Rússia, Dr. Vladimir Raikov também investigou a MEC, embora considere como sendo fenômenos obtidos por alguma forma de sugestão hipnótica, os denominou de ‘reencarnações sugestivas”.

Essas informações nos levam a crer que há uma tendência dos grandes grupos de parapsicologia do mundo em aceitar a possibilidade da “tese da sobrevivência da mente humana” após a morte biológica, principalmente o grupo ocidental. O casal Rhine da Duke University chega a dizer que, além da mente ser extrafísica, sobrevive a morte física e, após a morte biológica, é capaz de transmitir comunicações telepáticas.

Atualmente, a Telepatia, clarividência, precognição (premonição), psicocinesia (ação da mente sobre a matéria) estão comprovadas em laboratório. Sobrevivência após a morte, e reencarnação? As comprovações laboratoriais estão a caminho. Como pessoas ligadas à ciência, importante que tenhamos bom-senso e equilíbrio. Nem nos exaltarmos em voos com asa de cera, tal qual Ícaro que teve suas asas derretidas sob o sol, nem colocarmos chumbo nas asas do espírito. A visão independente dos fenômenos paranormais nos faculta abrir os olhos diante do sol do esclarecimento que nos traz inúmeras informações das escolas europeias e norte-americanas.

A alma ou Espírito deixa de ser do outro mundo, passa a se integrar neste mundo. Gradativamente, o preconceito científico que embaraça as investigações vem reduzindo de intensidade. Ao mesmo tempo, se reduz o preconceito religioso que se recusa a aceitar a investigações científicas sobre questões espirituais.

Fonte: Medicina e Espiritualidade

Dr. Ricardo Di Bernardi é médico pediatra e homeopata. Palestrante e escritor espírita. Presidente do ICEF – Instituto de Ciências Espíritas de Florianópolis.

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